Um vídeo gravado em evento no Cinturão Verde de Cuiabá em 2024 expõe o deputado estadual Faissal Calil em flagrante contradição. Ao lado da vereadora Baixinha Giraldelli, o parlamentar não apenas confessa ter destinado emenda à Secretaria de Agricultura Familiar (SEAF) para a compra dos kits agrícolas distribuídos no evento, como declara abertamente que essa entrega é “compromisso” com a vereadora — a quem chama de “nossa vereadora”, pedindo apoio explícito. A fala desmente categoricamente as declarações feitas por Faissal na tribuna da Assembleia Legislativa e em suas redes sociais, onde negou qualquer relação com os kits distribuídos pela SEAF — alvo da Operação Suserano, que afastou o secretário da pasta. Na ocasião, Faissal sustentou sua versão se apegando ao fato de que a delegada responsável pelo inquérito teria citado que ele e outros deputados beneficiaram parentes candidatos a vereador em Cuiabá, o que, segundo ele, não poderia ser provado.
O detalhe incômodo é que a irmã do deputado, Paula Calil, foi eleita vereadora em 2024 e atuava como coordenadora da Associação Política Jovem (APJ), entidade que passou a movimentar emendas públicas após sua reativação. Os projetos da APJ eram executados por meio de uma associação parceira, que também recebeu recursos públicos. Caso Paula tenha se beneficiado indiretamente com a distribuição dos kits agrícolas em comunidades carentes de Cuiabá, como sugere o inquérito , a polícia civil deverá confirmar nos próximos desdobramentos da investigação. Mas neste vídeo, ao menos, Faissal entrega a engrenagem da sua própria ação : conta, em detalhes, que foram mais de 1.700 kits distribuídos em mais de 30 cidades e que, em Cuiabá, finaliza a entrega com apoio explícito à candidatura de Baixinha Giraldelli, que ele assume como compromisso pessoal.
Para completar o retrato tragicômico da cena, Faissal abre o evento cumprimentando os agricultores como se estivesse animando o “Arraiá do Tio Faissal” — tradicional festa junina em seu bairro patrocinada com suas próprias emendas, inclusive nos anos de 2024 e 2025. Com direito a entonação forçada de “boaaaaa taaarde!” e uma coreografia improvisada de braços para os lados, o deputado parece confundir uma ação institucional com apresentação de quadrilha. No meio do cinturão verde, quem assistia talvez não soubesse se presenciava um ato de governo ou uma performance caipira: só faltou o chapéu de palha e o sanfoneiro para dar o tom da festança financiada com dinheiro público e capital político.
