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Desententimentos, desencontros e troca de farpas: lembre como foi a relação entre Lula e Zelensky até agora

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O presidente Lula (PT) e Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, vão ter uma primeira reunião apenas entre eles na quarta-feira (20), de acordo com informações do Itamaraty.

Os dois estão em Nova York, nos Estados Unidos, para participar da Assembleia Geral da ONU. Os líderes do Brasil e da Ucrânia chegaram a conversar por telefone em março, e em maio participaram de uma reunião do G7 no Japão, mas nunca tiveram um encontro bilateral.

Desde antes de assumir a presidência, no começo de 2023, Lula tem dado declarações que geram reclamações do líder da Ucrânia.

Lula citou diversas vezes a ideia de criar um grupo de países neutros que estariam bem posicionados para negociar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. O presidente brasileiro também já insinuou que a Ucrânia deveria abrir mão da Crimeia, um território que os russos invadiram em 2014, para acabar com a guerra. O brasileiro também já afirmou que Zelensky também é responsável pela guerra porque “quando um não quer, dois não brigam“.

Zelensky não gostou, e já disse que os pensamentos de Lula não precisariam coincidir com os de Vladimir Putin, o presidente da Rússia.

Durante a campanha eleitoral de Lula em 2022

Lula não havia nem sido eleito quando deu as primeiras declarações sobre a guerra na Ucrânia.

Em maio de 2022, ele deu uma entrevista à revista americana ?Time?. Ele afirmou que o presidente Zelensky seria tão responsável quanto o presidente russo, Vladimir Putin, pela guerra

“Às vezes, fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado. O Saddam Hussein era tão culpado quanto o Bush. Porque o Saddam Hussein poderia ter dito: ?Pode vir aqui visitar e eu vou provar que eu não tenho armas?.?

?Ele [Zelensky] quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver. É preciso estimular um acordo”, afirmou Lula.

Janeiro de 2023

Logo nos primeiros dias de mandato de Lula, a Alemanha pediu para o Brasil vender munição de tanques que seria repassada para a Ucrânia.

O Brasil se recusou a vender a munição.

Dias depois, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, veio a Brasília para um encontro com Lula.

Em 31 de janeiro, após o encontro, Lula deu uma entrevista coletiva e disse o seguinte:

“Acho que a Rússia cometeu um erro crasso de invadir o território de outro país. Mas acho que quando um não quer, dois não brigam. Precisamos encontrar a paz”.

Fevereiro de 2023

Lula afirmou que é preciso criar um grupo de países que não estão envolvidos na guerra para liderar uma negociação para um acordo de paz.

“No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz?, disse Lula.

O governo da Rússia deu sinais de que iria estudar essa proposta do Brasil.

Zelensky, em uma entrevista, afirmou que mandou convites ao governo brasileiro para visitar a Ucrânia. Ele argumentou que em um encontro presencial conseguiria se fazer entender melhor.

Os dois governos começaram a negociar uma conversa por telefone entre os dois presidentes.

Março

A conversa entre os dois aconteceu no começo de março.

O conteúdo foi uma repetição do que Lula e Zelensky já haviam dito: o brasileiro falou da proposta de um grupo de países neutros que iria intermediar uma negociação de paz, e o ucraniano convidou o brasileiro para ir ao país.

Abril

Em abril, Lula insinuou que os ucranianos deveriam abrir mão da Crimeia, uma península invadida pela Rússia em 2014. Dessa vez, ele deu declarações durante um café da manhã com jornalistas.

Lula afirmou o seguinte: “Não é necessário ter guerra. Ah, o que é que o Putin quer? O Putin não pode ficar com o terreno da Ucrânia. Talvez nem se discuta a Crimeia, mas o que ele invadiu de novo vai ter que repensar. O Zelensky não pode também ter tudo o que ele pensa que vai querer. A Otan não vai poder se instalar na fronteira. Tudo isso é assunto que a gente tem que colocar na mesa”, disse o presidente do Brasil.

Maio

No começo do mês, o governo brasileiro enviou Celso Amorim, o assessor de Lula para assuntos internacionais, para a Ucrânia.

Havia a perspectiva de um primeiro encontro presencial entre Lula e Zelensky durante uma reunião de países do G7 no Japão (nem Brasil nem Ucrânia são desse bloco, mas os dois presidentes eram convidados).

Chegou a haver uma negociação para um encontro entre os dois, mas no fim isso não ocorreu. No dia 21 de maio, Lula afirmou que a reunião não aconteceu porque o presidente ucraniano se atrasou e não apareceu. “O fato é muito simples, tinha uma bilateral com a Ucrânia aqui neste salão. Nós esperamos e recebemos a informação de que eles tinham atrasado. Enquanto isso, eu recebi o presidente do Vietnã. Quando o presidente do Vietnã foi embora, a Ucrânia não apareceu. Certamente teve outro compromisso e não pôde vir aqui. Foi simplesmente isso o que aconteceu”, disse Lula.

Depois disso, Zelensky disse que Lula deve ter ficado frustrado com o encontro que não aconteceu.

Junho

Zelensky voltou a falar sobre o presidente Lula em uma entrevista: “Lula quer ser original, e devemos dar essa oportunidade a ele. Agora, é preciso responder a algumas perguntas muito simples. O presidente acha que assassinos devem ser condenados e presos? Creio que, se tiver a oportunidade, ele dirá que sim. Ele encontrará tempo para responder a essa questão? Ele não achou tempo para se reunir comigo, mas, talvez, tenha tempo para responder a essa pergunta.”

Julho

Novamente em uma entrevista, Zelensky afirmou que Lula poderia ajudar no processo de paz ao reunir presidentes da América Latina.

“Primeiro, preciso de coisas bem concretas. Que ele una a América Latina e nos dê oportunidade de fazer uma reunião e conversar. Segundo, há crime de agressão contra nossa soberania e integridade territorial. Sei que Lula e os brasileiros apoiam a soberania da Ucrânia e precisamos desse apoio”, disse Zelensky.

Ele disse ainda que sabe que o Brasil não vai fornecer armas para a Ucrânia e, por isso, nem mesmo faz o pedido.

Ele também fez comentários sobre um encontro presencial: “Se não nos encontramos, significa que há algo errado entre os nossos povos. Não entendo a razão de não nos reunirmos”.

Agosto

Lula começou o mês dizendo Putin e Zelensky, tentam “ganhar”, enquanto “pessoas estão morrendo”.

“Por enquanto, a gente não tem ouvido nem de Zelensky nem de Putin a ideia de que vamos parar e vamos negociar. Por enquanto, os dois estão naquela fase de ‘eu vou ganhar, eu vou ganhar, eu vou ganhar, eu vou ganhar’, sabe? Enquanto isso, as pessoas estão morrendo”, disse o brasileiro.

A resposta de Zelensky veio dias depois. O ucraniano afirmou que as palavras do brasieiro “não trazem paz”.

“Acho que o presidente Lula é uma pessoa experiente, mas não entendo muito bem uma coisa: será que ele acredita que sua sociedade (o Brasil) não entende completamente o que está acontecendo e que ele conta com isso? As declarações de Lula não trazem paz de forma nenhuma. É estranho falar sobre a segurança da Rússia. Apenas a Rússia, Putin e Lula falam sobre a segurança da Rússia, sobre as garantias que devem ser dadas para a segurança da Rússia. Eu simplesmente acredito que ele (Lula) tem sua própria opinião. Os pensamentos não precisariam coincidir com os de Putin”.

Fonte G1 Brasília

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