É surreal, mas no Brasil, terra das jabuticabas e das ironias tropicais, o maior devedor de IPTU da capital sul-mato-grossense não é sequer de Campo Grande. A Rio Doce Administração e Participações, uma empresa sediada em Várzea Grande, Mato Grosso, acumula uma dívida que transcende o absurdo: mais de R$ 2,3 milhões em multas ambientais e tributos municipais. É como se, de longe, eles nos dissessem: “deve, mas paga quem pode, não quem deve”.
A lista publicada pela Prefeitura é quase uma crônica das mazelas brasileiras. São R$ 52,7 milhões em débitos de toda ordem, entre IPTU, multas e tributos. Entre os devedores, figuram nomes que já frequentaram os holofotes: um ex-prefeito e um ex-deputado. Gente que deveria dar exemplo, mas se especializou em ensinar como escapar da moral e da lei. Enquanto isso, o cidadão comum, que atrasa o carnê do IPTU em um mês, já recebe notificação ameaçadora.
O mais intrigante é pensar que uma empresa de outro estado se permita ignorar as leis ambientais e fiscais de um município vizinho como quem joga lixo no quintal alheio. É a institucionalização do “jeitinho brasileiro”, onde fronteiras são meras linhas no mapa e regras são feitas para serem burladas. A dívida não é só fiscal, é moral, é ética – um deboche ao contribuinte honesto.
E o que faz o poder público? Publica a lista, espera pelo pagamento e reza para que a justiça seja feita. Enquanto isso, a Rio Doce segue ativa, quase como uma metáfora da própria burocracia brasileira: inabalável, intocável, intocada. O nome é doce, mas o gosto que deixa é amargo.