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“A morte sociocultural que não haverá — porque o grafite resiste e ainda estamos aqui”

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Mesmo quando tentam apagar os muros, seguimos presentes: a arte é prova viva de que ainda estamos aqui.

Artigo

O episódio recente em que o prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini, confundiu grafite com pichação e celebrou a destruição de uma obra artística no centro da Capital vai muito além de um equívoco conceitual. Ele expõe um déficit cognitivo grave em quem deveria compreender e proteger a cultura de sua cidade. O grafite, reconhecido por leis estaduais, federais e pelo Plano Municipal de Cultura como manifestação legítima da arte urbana, foi tratado com desprezo e ignorância. Não é apenas um erro de interpretação: é um sintoma do que chamo de analfabetismo cultural funcional.

Mais do que a destruição de um grafite, esse gesto simboliza um ataque à liberdade criativa e à diversidade cultural que compõem a alma de Cuiabá. A nossa morte sociocultural, em outros termos, nos condoemos. Cada vez que uma autoridade pública confunde arte com crime, apaga também um pouco da memória, da voz e da expressão popular que brota das ruas. Não se trata apenas de tinta em um tapume — trata-se do direito de existir e resistir através da arte.

O momento político que vivemos no Brasil é de ameaça constante à cultura, à liberdade e à criatividade. Uma onda conservadora e radical tenta sufocar aquilo que nos torna mais humanos: a capacidade de imaginar, criar e expressar coletivamente nossas dores, nossos sonhos e nossa identidade. Mas, como já mostraram os próprios artistas urbanos, a cidade fala — e ninguém poderá calar sua voz.

E é nesse ponto que precisamos ser claros: podem até tentar apagar o grafite, mas não apagarão o povo. A direita radical pode ensaiar a morte da cultura, mas não conseguirá. Porque nós resistimos, nós criamos, nós sonhamos — e ainda estamos aqui.

Popó Pinheiro
Jornalista e Gestor Publico

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