As investigações da Polícia Federal sobre o uso ilegal de sistemas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) identificaram que alguns dos supostos envolvidos no esquema tinham conhecimento de outras irregularidades em investigação ? por exemplo, a “minuta do golpe” que circulou no governo Jair Bolsonaro.
?? Nesta quinta, a PF prendeu quatro suspeitos de integrar a chamada “Abin paralela” ? esquema que usava sistemas de contratos regulares da Abin para espionar, sem aval judicial, jornalistas, autoridades e desafetos do governo Bolsonaro na gestão Alexandre Ramagem.
Entre os presos, estão o policial federal Marcelo Araujo Bormevet, que foi cedido à Abin e à Presidência da República na gestão Bolsonaro; e o militar do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, à época também na Abin.
Durante a apuração, a PF interceptou mensagens trocadas entre eles que incluem ? nas palavras dos investigadores ? “referências relacionadas ao rompimento democrático” e “no mínimo, potencial conhecimento do planejamento das ações que culminaram na construção da minuta do decreto de intervenção”.
?? A “minuta do golpe”, como ficou conhecida, é o rascunho de um decreto golpista encontrado na casa do ex-ministro Anderson Torres, no fim de 2022.
?? A existência da minuta foi revelada à PF na delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O texto incluía ordens de prisão contra ministros do Supremo Tribunal Federal e a anulação das eleições de 2022, caso Bolsonaro não conseguisse a reeleição.
Os diálogos interceptados pela PF indicam que policiais federais da “Abin paralela” conheciam a existência do decreto.
Em 21 de dezembro de 2022 ? nas últimas semanas do governo Jair Bolsonaro ?, Marcelo Bormevet atuava na Presidência da República, e Giancarlo Rodrigues, na Abin.
Bormevet questiona sobre a possibilidade de Bolsonaro assinar, nas palavras dele, “a porra do decreto”.
“O Nosso PR imbrochável já assinou a porra do decreto?”, pergunta Bormevet.
“Assinou nada. Tá foda essa espera, se é que vai ter alguma coisa”, responde Rodrigues.
“Tem dia que eu acredito que terá, tem dia que não”, comenta Bormevet, em seguida.
Na avaliação da PF, o diálogo indica que as “ações clandestinas” da Abin paralela:
- têm conexão com outros inquéritos no STF;
- se situam no “nexo causal dos delitos que culminaram na tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito”.
Cinco mandados de prisão
Segundo a PF, na fase da Operação Última Milha deflagrada nesta quinta, os policiais cumprem cinco mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão em Brasília (DF), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo (SP).
São alvos dos mandados de prisão e de busca e apreensão:
- Mateus de Carvalho Sposito;
- Richards Dyer Pozzer;
- Rogério Beraldo de Almeida;
- Marcelo Araújo Bormevet;
- Giancarlo Gomes Rodrigues.
Os mandados foram autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Isso, porque a Operação Última Milha começou a partir das investigações do inquérito das fake news.
Na decisão, Moraes também determina que os investigados não podem conversar entre si.
De acordo com a PF, investigadores descobriram que “membros dos Três Poderes e jornalistas foram alvos de ações do grupo, incluindo a criação de perfis falsos e a divulgação de informações sabidamente falsas”.
“A organização criminosa também acessou ilegalmente computadores, aparelhos de telefonia e infraestrutura de telecomunicações para monitorar pessoas e agentes públicos”, diz a PF.
Se as condutas forem confirmadas, os investigados podem ser indiciados pela Polícia Federal e, em seguida, denunciados à Justiça.
A PF vê, de forma preliminar, possíveis crimes de:
- organização criminosa;
- tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito;
- interceptação clandestina de comunicações;
- invasão de dispositivo informático alheio;
Fonte G1 Brasília