O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou nesta quinta-feira (31), em entrevista ao Mais Você, que o governo já tem um plano praticamente finalizado para preservar empregos e apoiar os setores mais afetados pelo aumento de tarifas dos Estados Unidos.
?Ninguém vai ficar desamparado.?, garantiu o ministro ao responder a perguntas sobre os impactos da medida.
O decreto, assinado na quarta-feira (30) pelo presidente Donald Trump, eleva para 50% as tarifas sobre exportações brasileiras, afetando diretamente setores como café, carne bovina, frutas, pescado e mel, mas deixa uma série de itens de fora. As novas taxas entram em vigor no dia 6 de agosto.
Durante a conversa com Ana Maria Braga e César Tralli, Alckmin abordou temas como o risco de desemprego, os efeitos nos preços dos alimentos, a inflação, o impacto nos medicamentos e as estratégias do governo para tentar uma negociação com os EUA.
Risco de desemprego
Questionado por uma telespectadora sobre o risco de demissões nos setores atingidos, Alckmin explicou que os efeitos variam de acordo com o grau de dependência de cada empresa em relação ao mercado americano.
“Tem setores que metade da produção é exportada e, dentro dessa metade, 70% vão para os EUA (…) esse será atingido”, disse.
Entre os setores mais vulneráveis, o ministro citou o cafeeiro ? que emprega cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil ? e o de frutas, que teve quase todos os produtos incluídos na nova tarifa, com exceção do suco de laranja.
Para evitar demissões, Alckmin disse que o governo prepara um pacote de medidas que inclui:
- Negociação com autoridades e empresários americanos para tentar reduzir as tarifas;
- Busca por novos mercados para redirecionar a produção afetada;
- Apoio financeiro, tributário e creditício aos setores mais impactados.
Segundo Alckmin, o governo também está conduzindo um mapeamento detalhado para identificar o grau de exposição de cada setor e agir de forma direcionada.
Apesar do cenário desafiador, o vice-presidente apontou possíveis oportunidades. Ele destacou que há setores com falta de mão de obra e defendeu a aceleração dos programas de qualificação profissional.
A ideia é transformar a crise em chance de reinserção no mercado de trabalho, especialmente para quem pode migrar das áreas atingidas para setores em expansão.
Impacto nos preços dos alimentos
Sobre o impacto do tarifaço nos preços dos alimentos, Alckmin apresentou um panorama otimista. Produtos como arroz, feijão, óleo de soja e algumas frutas já registram queda nos preços, influenciada pela valorização do real frente ao dólar e por uma safra agrícola recorde.
?Se eu tenho uma safra 10% maior, o preço cai. Se eu tenho uma safra 10% menor, o preço sobe?, explicou.
Já carne, café, frutas e pescado, diretamente afetados pelas novas tarifas, tendem a ter queda de preço no mercado interno, já que parte da produção que seria exportada será redirecionada ao consumidor brasileiro, afirmou.
?A boa notícia é que há uma tendência de queda do preço de alimentos (…) É difícil afirmar com certeza, mas é óbvio que você vai ter que colocar mais desses produtos aqui dentro?, disse.
Tralli perguntou se essa queda acentuada poderia inviabilizar a produção. Alckmin reconheceu o risco, mas destacou o papel do Brasil na segurança alimentar e energética, lembrando que o país já abriu quase 400 novos mercados para produtos agrícolas.
Medicamentos vão subir de preço?
Ainda questionado sobre o preço dos medicamentos, especialmente os importados dos Estados Unidos. Alckmin procurou tranquilizar os telespectadores ao lembrar que o Brasil conta com o Sistema Único de Saúde (SUS), que garante o acesso gratuito a medicamentos essenciais.
?O remédio está incluído no Sistema Único de Saúde. As UBSs, prefeituras e estados devem fornecer?, afirmou.
Ele também destacou a ampliação do programa Farmácia Popular, que oferece medicamentos gratuitos ou com desconto. ?Quase dobramos o programa. Há um conjunto de medicamentos que o cidadão não paga?, disse.
Quanto ao impacto direto do tarifaço, Alckmin afirmou que não deve haver aumento imediato nos preços dos remédios. Ele explicou que o vencimento de patentes deve ajudar a baratear os medicamentos, ao permitir a entrada de genéricos e similares.
Também defendeu o fortalecimento da indústria farmacêutica nacional como estratégia de longo prazo para redução de custos.
Equilíbrio fiscal e medidas emergenciais
Alckmin reafirmou o compromisso do governo com o equilíbrio fiscal, mas disse que há espaço para ações emergenciais.
?Queremos o menor impacto fiscal possível. Mas, como no caso das enchentes no Rio Grande do Sul, é possível excluir esses gastos do cálculo do déficit primário?, afirmou.
Ele lembrou que o governo injetou R$ 29 bilhões no estado e que uma ação semelhante pode ser adotada agora, diante do impacto das tarifas americanas.
O ministro também destacou o programa ?Acredita Exportação?, voltado a micro e pequenas empresas.
?Se a pequena empresa exportar, ela recebe de volta 3% do valor em crédito tributário. Isso começa já na próxima semana?, anunciou. Hoje, esse grupo responde por apenas 0,8% das exportações brasileiras.
Alckmin afirmou ainda que as negociações com os Estados Unidos estão apenas começando.
?Não acabou ontem. Começa agora com mais força. Vamos trabalhar com o setor privado, com as câmaras de comércio e com o governo americano. É um perde-perde, e precisamos mostrar isso?, concluiu.
Sobre as taxas
A decisão da taxação foi tomada pelo presidente Donald Trump, que assinou uma ordem executiva e declarou uma nova emergência nacional para justificar a medida.
O governo americano afirma que o Brasil adotou ações recentes que representam uma ameaça à segurança nacional, à economia e à política externa dos Estados Unidos. Por isso, decidiu aumentar em 40 pontos percentuais a tarifa que já existia, totalizando agora 50%.
A ordem executiva americana também traz duras críticas ao governo brasileiro. Segundo o texto, o Brasil estaria promovendo perseguição política contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, além de adotar práticas que violam direitos humanos e enfraquecem a democracia.
Além da tarifa, o presidente Trump determinou, no último dia 18 de julho, o cancelamento dos vistos de Alexandre de Moraes, de seus aliados no STF e de seus familiares.
Fonte G1 Brasília