Mais de nove meses afastado dos gramados por um rompimento no ligamento anterior do joelho direito. O lateral-esquerdo Uendel concedeu entrevista exclusiva ao Portal Primeira Página, em parceria com a equipe do ge, e falou pela primeira vez após a contusão mais grave da carreira. O jogador destacou o apoio da família neste período, citou como a paixão pelos livros foi importante no processo de recuperação e, aos 34 anos, projetou o futuro no futebol.
A última vez em que entrou em campo oficialmente aconteceu em 21 de julho do ano passado, contra o Atlético-MG, ainda pelo primeiro turno do Brasileirão. Após tanto tempo, o retorno já tem uma data prevista, contra o Cruzeiro, na Arena Pantanal, pela 7ª rodada da Série A.
– Umas duas ou três semanas atrás eu tinha em mente para voltar contra o Atlético-MG, e ia ser até engraçado. Machuquei contra eles e iria voltar contra eles, mas eu acho que não vai dar. A gente tentou umas duas semanas atrás fazer um treinamento um pouco mais forte, mas o joelho não reagiu tão bem, e tivemos que dar uma recuada uns dias, mas agora estamos bem novamente. A minha expectativa é contra o Cruzeiro.
A lesão no joelho deixou Uendel fora de combate pelo maior intervalo ao longo dos 20 anos como jogador. E o lateral se emocionou ao contar sobre apoio dentro de casa para seguir com a recuperação.
– É a primeira vez que eu estou falando da lesão, e eu não chorei nenhuma vez desde que eu machuquei. Nem quando eu soube e em nenhum momento. O que ajudou muito nesse tempo foi a família, os filhos, a Bela e o Gael, de seis e quatro anos. Eu tirei esse tempo longe dos gramados para aproveitar com eles, então ajudou bastante a não pesar essa carga de ficar fora dos jogos. Aproveitei o lado que a gente não tem como jogador, que é esse lado com a família. Foi a primeira vez em 20 anos que eu tive finais de semana livres, então consegui aproveitar bastante com eles.
Além do pilar familiar, os livros foram elementos fundamentais para distração e foco no objetivo. Fã de biografias esportivas, ele contou que pelo menos cinco foram lidos no decorrer dos nove meses.
– A leitura também é algo que ajudou bastante. Quem me acompanha há algum tempo sabe que eu sou um cara que gosta de ler. Hoje eu estou lendo esse que foge um pouco do contexto do futebol, que eu achei interessante (Meditações: O diário do imperador estóico Marco Aurélio). É interessante ver que naquela época as pessoas tinham os mesmo dilemas que temos hoje.
Apesar do suporte, o experiente lateral-esquerdo afirmou que chegou a cogitar a aposentadoria, mas não antes de voltar a vestir a camisa auriverde em campo. O vínculo com o Dourado se estende até o fim deste ano.
– Na minha idade não tem como já não pensar nisso, até porque um jogador precisa se preparar, não pode parar do dia pra noite. Acho que é preciso ter um preparo sobre isso, e durante a lesão você acaba pensando. Mas eu não poderia parar assim. Minha ideia agora é recuperar bem o joelho, voltar, terminar esse campeonato e o contrato com o Cuiabá. Espero terminar da melhor maneira possível, com o Cuiabá na Série A pra gente renovar por mais um ano.
Uendel ressaltou a paixão pelo futebol, que inclusive foi passada para o filho Gael, de quatro anos. E a relação pode resultar em um futuro no esporte mesmo depois de pendurar as chuteiras.
– Todo mundo fala que vou virar treinador porque gosto de ler, de falar de tática, mas minha mulher me mata (risos). A princípio não, mas eu gostaria de fazer cursos da CBF, de gestão, me preparar. Porque querendo ou não, o que sabemos da vida é futebol, nossa faculdade é futebol. Eu estou há vinte anos no futebol, é como se tivesse feito cinco faculdades. Mas a princípio ser treinador logo de cara não. Eu moro em Criciúma, ser auxiliar-técnico no Criciúma, uma coisa mais tranquila e que consiga ficar em casa é uma possibilidade.
O torcedor pode ficar tranquilo que a volta de um dos pilares da linha defensiva do Cuiabá está cada vez mais próxima. Leia abaixo outros tópicos abordados na entrevista exclusiva com Uendel.
Início do time no Brasileirão
– É claro que em termos de pontuação não é o início que a gente esperava, mas a gente consegue ver sinais de que a equipe vai fazer um grande campeonato. Todos os jogos vão ser difíceis, independente do adversário. Mas a gente já viu que é questão de detalhe para conseguir uma vitória. Contra o Grêmio a gente poderia ter ganhado e acabamos perdendo. Agora vamos enfrentar o América-MG, vai ser no detalhe, depois contra o Atlético, também no detalhe.
Angústia por ficar fora durante o 2º turno do ano passado
– Acompanhar de fora é uma loucura. Lá dentro você nem percebe o externo, está tão concentrado, ali na torcida você passa mais nervoso, fica mais ansioso e vira torcedor mesmo. Apesar de ser companheiro dos caras, na arquibancada você vira torcedor, muito pior e muito mais difícil. De fora eu pensei: “por isso que os caras cornetam a gente”.
Como será o retorno aos gramados?
– Gera sempre uma dúvida sobre qual nível vamos voltar, mas estou bem, está dando tudo certo. É quase como andar de bicicleta, não desaprendi a bater na bola, claro que a questão de ritmo eu vou pegar com o tempo, mas fiquei feliz que em questão de treino o joelho está tudo no lugar. Quando voltar a jogar vai dar um frio na barriga diferente, é quase que uma reestreia depois de tanto tempo.
Avaliação do elenco
– A primeira temporada tinha uma mescla com o pessoal que conseguiu o acesso e alguns reforços, que foi uma mistura que deu liga. E com o tempo vai mudando, hoje da Série B só tem o João Carlos. Mas eu vejo uma equipe mais forte do que nos outros anos, em termo de peças, experiência, atletas mais rodados, mais preparados para jogar uma Série A. É claro que só isso não quer dizer que vai dar tudo certo, mas eu vejo a gente bem preparado.
Fonte GE Esportes