A média de apoio a posições autoritárias diminuiu 10% no Brasil entre 2017 e 2022, segundo pesquisa feita pelo Datafolha para a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública
A proposta do mapeamento é analisar as mudanças no país desde 2017, ano que foi feita uma pesquisa sobre o medo da violência e autoritarismo no país depois do impeachment de Dilma Rousseff e um ano antes das eleições de 2018.
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O estudo deste ano, realizado com apoio do Fundo Canadá para Iniciativas Locais, apontou que a média de apoio a posições autoritárias teve índice de 7,29, um valor 10% menor do que o de 8,10 encontrado em 2017.
A versão utilizada no estudo foi composta por 15 assertivas e respondida por meio de gradação de concordância: concorda totalmente, concorda, concorda parcialmente, discorda parcialmente, discorda, e discorda totalmente (veja abaixo gráfico com discorda, discorda totalmente, concorda e concorda totalmente).
Assim, os níveis de resposta variam de 1 a 6, que foram usados para a criação do “Índice de Propensão ao apoio a Posições Autoritárias”. Este índice corresponde a um ranking de 1 a 10 pontos: quanto mais próximo de 1, menor o apoio a posições autoritárias, e quanto mais próximo de 10, maior é a adesão e apoio a elas.
A análise dos dados mostrou que a queda no apoio a posição autoritária só não foi maior por conta do aumento na dimensão ?agressividade autoritária?, ressalta Renato Sérgio de Lima, sociólogo e diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
“A queda só não foi maior por conta do aumento na dimensão ‘agressividade autoritária’ ? predisposição à hostilidade a minorias ?, impulsionada, exatamente, pela incitação à radicalização de diversos temas que tangem a segurança pública e a democracia que temos presenciado sobretudo por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. A violência e o medo impedem que a agenda de direitos e cidadania inaugurada pela Constituição Federal avance”, diz.
Ao todo, 2.100 pessoas participaram da pesquisa entre os dias 3 e 13 de agosto de 2022, compondo uma amostra representativa da população brasileira com 16 anos ou mais, em cerca de 130 municípios de pequeno, médio e grande porte. A margem de erro é de 2 pontos.
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Perfil
A tendência a apoiar posições autoritárias em 2022, assim como em 2017, é maior entre quem têm mais medo da violência (índice 7,48) do que entre quem tem menos medo (7,16).
Os pesquisadores também enfatizam que aspectos sociodemográficos também influenciam a adesão a posições autoritárias. Assim, o “Índice de Propensão ao Apoio a Posições Autoritárias” também foi analisado de acordo com a escolaridade, a faixa etária, a cor/raça, a classe econômica, o porte do município, região do país e pela religião. Confira:
Faixa etária
Assim como em 2017, pessoas acima de 45 anos são as mais propensas a apoiar posições autoritárias, índice que cresce com a idade.
No entanto, observa-se que a maior redução do autoritarismo ocorreu entre jovens de 16 a 24 anos (de 8,1 em 2017 para 7,1 em 2022), tornando este grupo o com menor índice em 2022.
Raça/cor
Embora não tenha havido diferença estatisticamente significativa entre a adesão a posições autoritárias por raça/cor, nota-se que as maiores diminuições na adesão entre 2017 e 2022 ocorreram com a população negra. Tanto pessoas pretas quanto pardas apresentaram redução de 1 ponto na média de apoio a posições autoritárias.
Orientação sexual
A menor propensão ao apoio a posições autoritárias é encontrada entre pessoas bissexuais (6,5), seguida da de homossexuais (6,7), que se distanciam da média de heterossexuais (7,3).
Escolaridade
Em 2022, desde as pessoas analfabetas até as pessoas com o nível superior incompleto têm índices muito semelhantes de propensão a posições autoritárias, tornando-se grupos mais homogêneos apesar da diferença da escolaridade.
As diferenças significativas ocorrem com o grupo de pessoas com pós-graduação com as demais faixas de escolaridade;
Classe socioeconômica
Seguindo a média da população geral, houve uma diminuição da propensão ao apoio a posições autoritárias entre todas as classes socioeconômicas.
A classe D/E, embora continue apresentando a maior média junto com a classe C2, foi a que teve maior redução do autoritarismo em comparação com 2017, havendo uma diminuição de 1,1 pontos.
Região
As médias das diferentes regiões do país seguiram a tendência de diminuição da propensão ao autoritarismo em comparação a 2017. Sul e Sudeste tiveram as menores médias (7,1 e 7,2 respectivamente), sendo que a região Sul demonstrou a maior queda no índice em relação a 2017 (de 1,1 ponto).
As diferenças significativas são observadas entre Nordeste e Sul, com o Nordeste apresentando a média maior; e marginalmente entre Nordeste e Sudeste, com Nordeste apresentando a média maior.
Porte e natureza do município
Pessoas residentes nas capitais têm médias menores de propensão a posições autoritárias (7,0) em comparação com aqueles residentes nas regiões metropolitanas e interior (ambos com média 7,3).
Religião
As maiores médias de propensão a posições autoritárias estão entre os católicos e evangélicos e neopentecostais (ambos com média 7,4).
As menores médias estão entre as pessoas de religiões de matriz africana, outras religiões (média 7,0 para ambos), e as sem religião que, com média 6,8, têm a menor propensão de apoio a posições autoritárias.
Fonte G1 Brasília