Almir dos Santos Jr. deixou Porto Alegre na sexta-feira, foi de carro para Porto Alegre, pegou um voo para Cuiabá e, dois dias depois, foi campeão do Ibero-Americano, bateu o recorde da competição e confirmou o índice olímpico para disputar o salto triplo em Paris.
Bronze no Mundial indoor em 2018, Almir saltou 17m31 na capital mato-grossense. Ele já havia saltado a mesma distância no Mundial de 2022 além de ter feito 17m24 no ano passado, em São Paulo, garantido a vaga em Paris, pois o índice é de 17m22. Apenas dez atletas no mundo têm a marca mínima para ir aos Jogos de Paris.
– Estou muito feliz. Era meu objetivo. Eu nasci nesse estado, cheguei para bater recorde e fazer a melhor marca do ano. São dois anos de preparação, deixei minha família, abdiquei de muita coisa para estar preparado para essa olimpíadas. É só o começo – afirmou Almir Júnior logo após a prova.
Nascido no Mato Grosso, mas desde os 15 anos morando e treinando em Porto Alegre, onde defende a Sogipa, Almir Júnior se dedicou a ajudar a população atingida pelas chuvas e enchentes nos últimos dias. O clube de Almir virou um dos principais centros de arrecadação de doações e ajuda ao povo gaúcho que nos últimos dias sofre com a maior tragédia ambiental da história do Rio Grande do Sul.
– A gente acabou não focando muito na preparação nesses dias, mas tinha uma prioridade muito maior. Eu estava em Portugal, mas, antes de chegar, o aeroporto fechou por causa das chuvas e, eu querendo ir para casa, querendo ficar com minha família, fiquei sem ter o que fazer. Tive que dormir em São Paulo, com o sonho de que o tempo ia abrir. Mas a previsão só piorou. Fiquei bem preocupado com tudo o que estava acontecendo com minha família no Rio Grande do Sul – contou Almir Júnior na sexta-feira ao programa Ça Va Paris, do Sportv.
– Me falaram para ir direto para Cuiabá, mas foi um momento em que era impossível ignorar todo o que estava acontecendo. Fui até Florianópolis, consegui pegar um barco para Porto Alegre. Peguei umas roupas e fui para a água ajudar. Vi a catástrofe que estava acontecendo e ali a prioridade era ajudar pessoas, não mais a preparação olímpica. É impossível ficar alheio. É uma catástrofe sem precedentes – concluiu.
Há dois anos, Almir mora em Portugal e passaria em Porto Alegre para visitar sua mulher, a gaúcha Talita Ramos, e demais familiares. O atleta de 30 anos, porém, precisou mudar os planos ao chegar ao Brasil.
A chuva não dá trégua no Rio Grande do Sul, especialmente em áreas que já haviam sofrido muito com enchentes e deslizamentos. O número de mortos subiu para 143.
– Mais do que nunca, o espírito olímpico sempre foi esse. Todo mundo ajudou da forma que dava. É impossível pensar em outra coisa. Me perguntei várias vezes se viria para o Ibero. A situação é muito triste. É impossível pensar só em si, sabendo o trabalho que ainda tem pela frente. Estou em um dos meus melhores momentos atléticos e estou a pouco mais de dois meses das Olimpíadas. Então, conversando com muita gente, consegui vir. Mesmo assim, continuo ajudando. Nossa casa virou centro de distribuição. É difícil para mim focar só na preparação olímpica. Ao mesmo tempo são muitos anos de trabalho ? explicou Almir.
O salto de 17m31 é o sexto melhor do mundo na temporada e coloca Almir como um dos candidatos à medalha nas Olimpíadas de Paris. O ouro em Tóquio foi do português Pedro Pichardo, com 17m98; a prata ficou com Zhu Yaming, com 17m57; e o bronze com Hugues Fabrice Zango, de Burkina Faso, com17m47. Almir Júnior saltou apenas 16m27 nas eliminatórias e ficou em 23º lugar.
Fonte GE Esportes