Enquanto o Governo de Mato Grosso afirma estar em dificuldades fiscais, alegando limitações para reajustar salários do funcionalismo e pedindo compreensão diante de um suposto “caixa apertado”, uma decisão administrativa revela contradições profundas entre o discurso e a prática. No mesmo período em que o Estado dramatizava sua situação financeira em plenário, assinou um contrato de R$ 32 milhões para a aquisição de um avião executivo de luxo, modelo Beechcraft King Air B250 ou B260, aeronave bimotor, pressurizada, voltada ao transporte confortável de autoridades – como foi o caso recente da primeira-dama Virgínia Mendes, que usou o jato em deslocamento até o município de Poconé.
Coincidentemente, em Poconé também foi instalada a unidade piloto do Programa Ser Criança, voltado ao atendimento de crianças de 4 a 12 anos em situação de vulnerabilidade social. O projeto, que é fruto de parceria entre o Estado e o município, prevê a aplicação anual de R$ 7 milhões, incluindo refeições, uniformes, capacitação de profissionais e atividades pedagógicas no contraturno escolar. O custo de construção da unidade física foi de R$ 2.088.141,46. Uma simples comparação revela a desproporcionalidade: com o valor de um único avião executivo, seria possível construir 15 unidades do Ser Criança, beneficiando diretamente milhares de crianças em diferentes regiões do estado.
A conta é simples e a simbologia, poderosa: enquanto há limitações alegadas para reajustar salários de professores, médicos e policiais, há fartura para investimentos que priorizam o conforto da elite do poder. Entre jatos e brinquedos pedagógicos, o governo fez sua escolha.