Fontes do Itamaraty afirmam que o governo brasileiro trabalha para conseguir anunciar ainda durante a cúpula do Mercosul, que ocorrerá nos dias 6 e 7 de dezembro, no Rio de Janeiro, a conclusão do acordo comercial do bloco sul-americano junto à União Europeia.
Durante os meses de setembro e outubro, negociadores dos dois blocos se reuniram, presencial e virtualmente, e diplomatas que participam ativamente da negociação destacam que ?houve avanços significativos nas últimas semanas?.
Representantes do Mercosul reafirmaram aos europeus compromissos já assumidos, sobretudo a respeito do desenvolvimento sustentável e de comércio.
Apesar dos avanços, todos os lados ainda adotam a cautela sobre a conclusão do acordo, negociado desde 1999. Dois temas, inclusive, foram apontados como os de maior dificuldade para um entendimento entre blocos:
- Compras governamentais: A União Europeia defende a participação de empresas dos países-membros dos dois blocos, em condição de igualdade, de licitações governamentais em todos os países pertencentes ao acordo. O Brasil, a pedido do presidente Lula, defendeu a retirada desse ponto do acordo. Lula inclusive reforçou aos europeus que não abre mão do ponto das compras governamentais nas negociações do acordo entre a UE e o Mercosul. Segundo fontes da diplomacia brasileira, a União Europeia demonstrou estar aberta a um acordo nessa questão.
- Nova lei europeia do desmatamento: A nova lei europeia dá à UE o poder de anular concessões que foram negociadas durante 20 anos. Para negociadores brasileiros, o ponto não é razoável para o Brasil e o Mercosul. O Brasil busca um mecanismo que permita, no caso dessa lei ser aplicada, uma compensação pra reequilibrar o acordo comercial entre os dois blocos, visto que a lei europeia poderia ameaçar as exportações do Mercosul.
A expectativa é de que ainda esta semana, novas reuniões virtuais aconteçam, e, na semana que vem, encontros presenciais também sejam realizados entre os negociadores, em Brasília.
No fim da semana que vem, os diplomatas vão avaliar se ainda haverá pendências e o que será preciso fazer para finalizar tudo a tempo da cúpula do Mercosul. O bloco já destacou que, após 20 anos de negociações, esta é a janela ideal para se finalizar de forma rápida o acordo comercial.
Há, também, motivos políticos na urgência por um negócio fechado entre os dois blocos. Segundo antecipou o blog da Julia Duailibi, diante do risco de Javier Milei ser eleito presidente da Argentina, o Brasil tenta acelerar as negociações.
Após sair vitorioso nas primárias de agosto, Javier Milei afirmou que o Mercosul ?deve ser eliminado? e que vai priorizar relações com Estados Unidos e Israel. Ele também é contrário à entrada da Argentina no Brics, grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
As declarações do candidato populista que se define como libertário deixaram diplomatas receosos com a possibilidade de o acordo do Mercosul com a União Europeia estagnar, caso Milei seja eleito o novo presidente argentino.
Fonte G1 Brasília