Em meio às negociações de ajuda humanitária para acessar os civis que estão em Gaza, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CIVC) fez um apelo para que médicos e voluntários consigam atravessar a fronteira.
Em entrevista a GloboNews, a entidade disse que equipes de cirurgiões já estão prontas para atender os feridos pelos bombardeios, mas não conseguem acesso à região.
O porta-voz do CIVC em Jerusalém, Sthephen Ryan, afirmou que os insumos hospitalares estão se esgotando e que os profissionais de saúde em Gaza atuam sob pressão devido à alta demanda de pacientes. ?Neste momento, há uma enorme necessidade de médicos qualificados em Gaza. Mas, para fazer isso, precisamos de ter acesso ao local?, disse.
Ryan destaca a importância de manter lugares como hospitais protegidos durante a guerra. Esse tipo de ataque, como a explosão que atingiu um hospital em Gaza nesta terça-feira (17), configura crime de guerra, segundo o direito humanitário internacional.
?Embora a Cruz Vermelha continue lembrando as partes envolvidas de suas responsabilidades neste contexto, cabe aos que lutam garantir que os hospitais e outros locais de proteção, onde os civis procuram refúgio, não sejam alvo?, afirmou o porta-voz.
A guerra entre Israel e Hamas preocupa o CIVC, que atua há mais de 50 anos com conflitos na região. ?O que temos visto é uma escalada de conflitos que excede qualquer outra vista nos últimos anos?, diz Ryan. (Leia abaixo entrevista com Stephen Ryan)
Como é o trabalho feito pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha durante conflitos como esse entre Israel e Hamas?
Stephen Ryan – A Cruz Vermelha está presente em Israel e nos territórios ocupados há mais de 50 anos. Isso significa que estamos prontos para responder às necessidades das pessoas afetadas por conflitos armados, onde quer que estejam e quem quer que sejam. Isso envolve uma gama de atribuições. Significa que trabalhamos com diferentes autoridades israelitas e palestinas para garantir que elas compreendam quais são as suas responsabilidades em relação ao direito humanitário internacional.
Neste momento, temos uma regra específica para prestar assistência às pessoas afetadas em Gaza, mas também temos uma regra específica para lidar com israelenses e pessoas de outras nacionalidades que foram feitos refém: o objetivo de garantir que estejam seguros e que possam estar em contato com a família para que saibam que estão seguros e possam regressar em segurança às suas casas.
Qual é a situação dos hospitais em Gaza e em Israel? Há diferença entre as condições de trabalho e os suprimentos nos locais?
Stephen Ryan – Os desafios e as necessidades das pessoas em Israel, bem como em Gaza, especialmente da equipe médica, são extremos. Há uma necessidade urgente de assistência médica para as pessoas que foram afetadas pelo conflito. Atualmente, não é possível a Cruz Vermelha ou a qualquer outra entidade levar suprimentos adicionais ou assistência a Gaza. Enquanto isso, as necessidades humanitárias continuam crescendo.
Os suprimentos hospitalares estão acabando, e a energia e a capacidade de resposta da equipe médica em Gaza sofre pressão. A Cruz Vermelha concentra seus esforços em garantir que a equipe seja colocada onde ela é mais demandada. Neste momento, há uma enorme necessidade de médicos qualificados em Gaza. Temos uma equipe cirúrgica a postos para ir a Gaza, neste momento, para prestar apoio. Mas, para fazer isso, precisamos de ter acesso ao local.
Há membros do Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Gaza neste momento?
Stephen Ryan – Antes do início deste conflito, a Cruz Vermelha tinha um escritório em Gaza. Temos mais de 100 funcionários por lá neste momento. Isso inclui uma equipe internacional e outra regular. Mas há necessidade de muito mais. Atualmente, Gaza continua sitiada, tanto em termos de bens como de pessoas. Temos constantemente pedido acesso a Gaza desde o início dos ataques, porque o nosso objetivo é responder às necessidades dos civis. Neste momento, eles precisam do nosso apoio.
Como avaliam a explosão do hospital em Gaza, que matou mais de 500 pessoas, nesta terça-feira (17)?
Stephen Ryan – Sobre o incidente ocorrido ontem no hospital, o que podemos dizer é que os hospitais estão particularmente protegidos pelo direito humanitário internacional. É importante dizer que o objetivo das pessoas que trabalham em hospitais é ajudar aqueles que foram feridos.
Esforços devem ser empenhados por todos os envolvidos no conflito para garantir que os hospitais estejam protegidos. Embora a Cruz Vermelha continue lembrando as partes envolvidas de suas responsabilidades neste contexto, cabe aos que lutam garantir que os hospitais e outros locais de proteção, onde os civis procuram refúgio, não sejam alvos.
Qual é a principal diferença entre a guerra Israel-Hamas e outros conflitos em que o CIVC atuou no passado?
Stephen Ryan – Nós somos uma organização neutra e estamos presentes em Israel e nos territórios ocupados há mais de 50 anos. Isso significa que vimos muitos conflitos por aqui e em outras partes do mundo. O que temos visto em Israel e no território ocupado nas últimas duas semanas tem sido uma escalada de conflito que excede qualquer outra vista nos últimos anos. E as necessidades humanitárias são enormes. Significa que as pessoas de ambos os lados são gravemente afetadas. Nossa responsabilidade é responder às suas necessidades da melhor maneira possível. E o que precisamos para sermos capazes de fazer isso é ter acesso àqueles que foram mais afetados
Trabalhar em condições onde há conflitos contínuos é sempre um desafio. É por isso que nós nos envolvemos nos momentos antes, durante e depois de qualquer confronto. Nós tivemos um longo diálogo com as autoridades israelenses e outras autoridades em algumas partes do mundo para garantir que elas entendessem qual é o nosso papel. Os últimos dias têm sido extremamente difíceis para nós porque o nosso foco é chegar o mais perto possível para ajudar os civis. Mas acho que esse tipo de situação é sempre desafiadora.
Fonte G1 Brasília