Em um discurso inflamado na tribuna da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, a deputada estadual Janaína Riva (MDB), decana em mandatos e única mulher no Parlamento, acabou ultrapassando o limite do aceitável ao proferir uma expressão de cunho racista durante um ataque ao secretário-chefe da Casa Civil, Fábio Garcia. Revoltada com a suposta retaliação de Garcia quanto ao pagamento de emendas parlamentares, Janaína bradou que o secretário deveria “fazer molecagem lá para suas negas”, frase que chocou pela carga discriminatória e pelo uso de um estereótipo racial com conotação depreciativa.
A declaração ocorreu no calor da denúncia de que emendas de sua autoria estariam sendo deliberadamente bloqueadas pelo Executivo estadual. Visivelmente exaltada, a deputada afirmou que “não tem medo de secretário, de governador, nem de ninguém”, exigindo respeito ao seu mandato e ao direito parlamentar às emendas. A retórica dura, no entanto, foi marcada pelo deslize racial, que tirou o foco do mérito da denúncia e mergulhou o episódio em uma grave controvérsia ética.
O caso levanta questões profundas sobre o racismo estrutural no discurso político, especialmente quando protagonizado por autoridades públicas que deveriam representar todos os cidadãos, inclusive mulheres e negros. Em tempos de intolerância cada vez menos tolerada, espera-se que a deputada se retrate publicamente. A Assembleia Legislativa, por sua vez, tem o dever institucional de agir à altura da gravidade da fala, sob pena de normalizar o preconceito no espaço que deveria ser o mais democrático do Estado.