A volta do despacho gratuito de bagagens em voos, discutida no Congresso Nacional, deve afastar do Brasil as companhias “ultra low cost”, empresas aéreas que oferecem voos muito baratos, mas que cobram valores adicionais por itens como bagagem, alimentação e marcação de assentos.
Algumas dessas empresas já atuam em países vizinhos e tinham planos de vir para o Brasil após a pandemia.
O texto que prevê o despacho gratuito foi aprovado pelo Senado nesta terça-feira (17) e agora será analisado pela Câmara dos Deputados.
Empresários do setor e integrantes da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) dizem que o Brasil estará na “direção oposta do que vem ocorrendo no mundo”.
“A passagem vai ficar ainda mais cara”, alerta o presidente da Anac, Juliano Noman.
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O blog conversou nos últimos dias com executivos de empresas low cost, com a Anac e com representantes de empresas aéreas brasileiras.
As empresas aéreas do Brasil não têm se manifestado publicamente contra a medida porque, para elas, significaria afastar concorrência.
Reservadamente, executivos das três principais empresas que operam voos domésticos no Brasil reconhecem que os preços cobrados dentro do Brasil subiram muito mais do que para destinos internacionais. A explicação é a falta de concorrência.
“Não tivemos ajuda do governo ao longo da pandemia e as tarifas de hoje refletem isso”, afirmou um executivo ao blog.
Nos voos internacionais, relatam, há empresas de fora atuando no Brasil, por isso as empresas brasileiras não puderam subir os valores. Já os voos domésticos, operados basicamente por três empresas, estão hoje compensando a alta do combustível da aviação e também as perdas e endividamento da pandemia.
Nos últimos meses, preços de alguns trechos dentro do Brasil, como a ponte aérea Rio-SP, triplicaram.
“Hoje, as empresas domésticas tem uma primeira tarifa, mais barata, para quem não despacha bagagem. Esta tarifa vai simplesmente desaparecer, e mesmo quem não despacha bagagem vai pagar uma tarifa maior”.
Para Juliano Noman, presidente da Anac, somente a concorrência poderá reduzir preços no Brasil. Isso poderia se dar com a entrada de empresas econômicas, as chamadas low cost.
Com a perspectiva de fim da pandemia, a agência reguladora voltou a ser procurada pelas ultra low cost interessadas no Brasil. Algumas já devem operar voos de países vizinhos para o Brasil neste ano. A ideia seria, a partir de 2023, terem autorização de operar voos domésticos.
Cinema, pipoca e refrigerante
O blog conversou com um executivo de uma empresa ultra low cost que já atua em outros países da América do Sul e planejava entrar no Brasil.
Ele explicou que a bagagem despachada aumenta custos de combustível aéreo e de pessoal em solo – os dois maiores custos das empresas aéreas.
Afirmou ainda que números da América do Sul mostram que entre 35 a 50% dos passageiros não viajam com bagagem despachada, mas passariam a pagar uma tarifa maior, como se despachassem. Como exemplo, ele afirma que alguns voos domésticos em países como o Chile são oferecidos por US$ 15. Apenas o custo de bagagem despachada é de US$ 10. Se tivesse que oferecer o despacho automático, o voo não sairia ao consumidor final por menos de US$ 25 a US$ 35.
“É como você obrigar o cinema a incluir no ingresso a pipoca e o refrigerante. Vai subir o preço do ingresso, mesmo para quem não come pipoca”, diz.
“É uma decisão que vai na contramão do que o mundo está fazendo”, completa.
Fonte G1 Brasília