Afinal, qual o papel de Janones na candidatura de Lula? Com a palavra, o próprio: “Minha missão é distrair o gado para o Lula passar”. Quando desistiu de sua candidatura a presidente da República, Janones teve o nome cogitado para integrar o conselho político ou coordenar a comunicação digital de Lula. Nem uma coisa, nem outra. Até hoje, o PT sequer confiou a ele as senhas da rede social do candidato.
Mesmo sem escalação oficial na campanha, Janones ajuda Lula, tumultuando o campo bolsonarista no território que eles dominam: as redes sociais. O PT, no fundo, gosta do papel que ele vem exercendo, mas tem receio de que a imagem de estadista que projetam para Lula seja arranhada. Em resumo: parte da esquerda tem “nojinho” do estilo Janones. E por que?
Porque Janones é uma espécie de Chacrinha que, em vez de distribuir bacalhau, distrai o auditório com xingamentos, ofensas e muitas “denúncias bombásticas”. As mesmas ferramentas que a extrema direita utiliza no mundo digital.
Na boca de Janones, um trivial bom dia ganha a carga de dramaticidade da revelação dos três segredos de Fátima. Foi com esse tom que ele conseguiu, em poucos dias, que 20 milhões de pessoas assistissem a um vídeo em que denunciava que Bolsonaro irá acabar com o auxílio emergencial de R$ 600 em dezembro.
Segundo o cientista político Felipe Nunes, as falas de Janones certamente têm contribuído para que mais eleitores saibam que os R$ 600 não estão garantidos em 2023 ? como vende o presidente da República ? e que o valor não foi uma conquista de Bolsonaro, mas uma decisão do Congresso.
“Isso é papel dele [Janones]”, afirma o cientista político Felipe Nunes.
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Outro serviço prestado por Janones à candidatura do PT foi no debate da Rede Bandeirantes, em que Lula evitou confronto com Bolsonaro no tema corrupção com Bolsonaro. O assunto nas redes sociais, naquele momento, não era o pífio desempenho do petista. Eram as ofensas e baixarias que Janones trocava com bolsonaristas, entre eles o ex-ministro Ricardo Salles. Janones, que foi convidado de última hora para acompanhar Lula no debate, ficou no topo dos assuntos mais comentados naquela noite. Ajudou a distrair o “gado”, como ele se refere aos bolsonaristas.
Aliás, gado é até uma palavra refinada se comparada com as ofensas e xingamentos usados por Janones. “Vagabundo” e “miliciano” são como ponto e vírgula em seu discurso: estão em todas suas frases sobre Bolsonaro e seus filhos. E foi esse comportamento que levou parte do PT e da esquerda a querer se descolar de Janones, sentimento que o blog chama de nojinho.
“Não uso as armas mais bonitas, eu sei, mas esse é o único meio de enfrentar o bolsonarismo”, admite Janones.
E no estilo Janones, um final dramático para este texto. Para, para, para!!!!! Para tudo!!!! Será mesmo que o que a esquerda sente é nojinho? Será? Será mesmo? Com a palavra o cientista Felipe Nunes:
“Se Janones se aproximar muito de Lula, ele pode absorver uma parte do capital político de Lula, o que seria dragar votos para longe do PT. O que o partido não gostaria, é claro”.
Em resumo: o que é lido com nojinho, pode ser medo.
Fonte G1 Brasília