Em discurso nesta sexta-feira (1º), na abertura da conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes, presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse que a Amazônia amarga uma das “mais trágicas secas de sua história”. Ele também citou que no sul, tempestades e ciclones deixam um rastro inédito “de destruição e morte”.
“A ciência e a realidade nos mostram que desta vez a conta chegou antes”, afirmou.
O Rio Negro, localizado na região Amazônica, atingiu uma seca histórica no dia 16 de outubro de 2023, ao chegar nos 13,59 metros. Enquanto o Rio Grande do Sul registrou nove ocorrências de ciclones extratropicais entre julho e setembro.
De acordo com Lula, “a geração que destrói o meio ambiente não é a geração que paga o preço”.
“O planeta já não espera para cobrar a próxima geração. O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos, de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas, de discursos vazios. Precisamos de atitudes e práticas concretas. Quantos líderes mundiais estão de fato comprometidos em salvar o planeta?”.
O presidente declarou ainda que este ano é o mais quente “dos últimos 125 mil anos”. As fortes temperaturas são resultados das contínuas emissões de gases com efeito de estufa, combinadas com o El Niño, que aquece as águas superficiais no leste do Oceano Pacífico.
A conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU) ? que deve durar duas semanas ? é um evento que reúne governos do mundo inteiro, diplomatas, cientistas, membros da sociedade civil e diversas entidades privadas com o objetivo de debater e buscar soluções para a crise climática causada pelo homem.
Guerra
Lula lembrou também que o mundo gasta mais em armas, quantias que podiam ser investidas no combate à fome e no enfrentamento à mudança do clima. “Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres”.
O presidente brasileiro afirmou que “o mundo naturalizou disparidades inaceitáveis de renda, de gênero e de raça e que não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater a desigualdade”.
Lula também criticou a postura da ONU sobre a incapacidade de manter a paz, “simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra”. A Organização das Nações Unidas tem, a Rússia, Ucrânia e Israel como países-membros, por exemplo.
“Governantes não podem ser eximidos suas responsabilidades. Nenhum país resolverá seus problemas sozinho. Estamos todos obrigados a atuar juntos, além de nossas fronteiras. O Brasil está disposto a liderar pelo exemplo. Ajustamos nossas metas que são hoje mais ambiciosas do que a de muitos países desenvolvidos”, disse o presidente ainda.
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Comitiva ministerial em Dubai
Além dos encontros de Lula, a comitiva ministerial terá objetivos específicos. Veja abaixo o que cada ministro presente no evento deve buscar na COP 28.
Marina Silva ? Meio Ambiente
Durante a participação na COP 28, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deve tratar de temas como ações de combate à crise climática, como o andamento das metas estabelecidas no Acordo de Paris, mas também de transição energética.
Marina deve apresentar dados do que o governo brasileiro considera avanços no controle do desmatamento e ações conectadas à preservação e proteção das florestas tropicais.
“Estamos indo para COP não é para ser cobrados, nem sermos subservientes, mas para, altivamente, cobrarmos que medidas sejam tomadas, porque é isso o que o Brasil tem feito”, afirmou a ministra. A declaração foi dada durante reunião da CPI das ONGs, na segunda-feira (27), no Senado Federal.
Fernando Haddad ? Fazenda
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segundo o ministério, participará da COP 28 fazendo a apresentação do Plano de Transformação Ecológica do Brasil, que deve ser o tema prioritário na agenda brasileira na conferência.
Entre as medidas do Plano de Transformação Ecológica elaborado pelo governo estão:
- Criação de um mercado regulado de carbono;
- Emissão de títulos soberanos sustentáveis;
- Criação de uma taxonomia sustentável nacional;
- Reformulação do Fundo Clima para financiar atividades que envolvem inovação tecnológica e sustentabilidade.
Sônia Guajajara ? Povos Indígenas
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, terá a atenção voltada para reforçar a importância das demarcações dos territórios indígenas no mundo, segundo o ministério. No acordo de perdas e danos devido às mudanças climáticas, para o qual o Brasil está liderando a construção, o Ministério dos Povos Indígenas deve destacar a população indígena como uma das mais atingidas pelos eventos extremos.
No debate da transição energética, a ênfase de Guajajara também abordará a garantia dos direitos humanos e proteção da biodiversidade. Entre as pautas dos encontros estão também o conhecimento indígena nas soluções para crise climática, a atuação das mulheres para a justiça climática, o financiamento de projetos para as terras indígenas e a aceleração das ações práticas para o desenvolvimento sustentável.
Rui Costa ? Casa Civil
Há previsão de que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, realize reuniões bilaterais para atração de investimentos estrangeiros em Dubai, além de acompanhar o presidente Lula nos compromissos relacionados à COP-28. A Casa Civil é responsável por comandar o “Novo PAC”, programa de investimentos em obras do governo federal.
Acompanhado dos ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, Rui Costa participou de reuniões sobre investimentos em infraestrutura e energia na Arábia Saudita.
O ministro da Casa Civil também acompanhou as agendas de Lula no Catar e estará presente na visita do presidente brasileiro à Alemanha ? próxima parada da agenda internacional.
Fonte G1 Brasília