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Empresário de Piracicaba que denunciou suposto esquema de corrupção no MEC detalha ‘gabinete itinerante’ de pastores: ‘doação de R$ 100 mil’, diz

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O empresário e radialista, José Edvaldo Brito, denunciou ao Ministério Público Federal (MPF) a origem do suposto esquema de corrupção no Ministério da Educação (MEC) e que envolve o chamado “gabinete itinerante” de pastores que controlaria verbas e a agenda do MEC. A operação “Acesso pago” da Polícia Federal (PF) se baseou nos apontamentos de Brito às autoridades. O denunciante deu entrevista ao Fantástico, neste domingo (26), e afirmou que os valores em propinas chegam a R$ 100 mil.

Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça citaram o presidente Jair Bolsonaro e, agora, senadores pedem que o Supremo Tribunal Federal apure a possível interferência de Bolsonaro na investigação. Na última quinta-feira (23), o presidente defendeu o ex-ministro, mas afirmou que exagerou quando afirmou, em março, que colocaria “a cara no fogo” por Milton Ribeiro.

Após a denúncia do empresário Edvaldo José Brito, em setembro do ano passado, outros encontros entre os pastores e o ex-ministro Milton Ribeiro ocorreram, segundo agenda oficial. “Eu me senti usado depois disso”, afirmou o empresário.

“Eu descobri que o ministro [Milton Ribeiro] tinha um gabinete itinerante. Os técnicos do FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação] iam para um determinado município, organizavam um evento em parceria com os municípios”, relatou Brito em entrevista ao jornalista Estevan Muniz, para o Fantástico deste domingo (26).

Além do ex-ministro da Educação, foram presos suspeitos de integrar o esquema o pastor Gilmar Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e ministro da Assembleia de Deus no Brasil, o pastor Arilton Moura. A polícia acredita que eles cobravam propina para organizar encontros com Milton Ribeiro, na época ainda no cargo.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) é o órgão que distribuiu recursos do Ministério da Educação para estados e municípios.

À reportagem do Fantástico, Edvaldo Brito contou que procurou o pastor Gilmar Santos para ver seria possível levar o então ministro Milton Ribeiro e o gabinete itinerante para a sua região, no interior de São Paulo. Depois dos encontros com os técnicos, era comum haver um culto evangélico organizado pelos dois pastores.

“O ministro pregava nesse culto. Acabei descobrindo o contato do Gilmar através da própria igreja dele. Liguei e ele marcou para me atender em Brasília, num hotel. E eu fui até lá”, relatou.

O encontro de Brito com os pastores ocorreu em maio de 2021. “Tinha uma mesa lá em que ele atendia”, detalhou. Edvaldo disse ainda que Arilton aprovou a ida do gabinete até Nova Odessa (SP), no interior de São Paulo.

“Naquele momento, eu nem prestei muita atenção. Para mim, eu estava falando com um pastor que ajudava as pessoas, porque o que eu conheço de um cristão é isso, é se doar”, afirmou.

Depois, segundo o empresário, os pastores pediram que ele e o prefeito de Nova Odessa fossem até Brasília para gravar um vídeo e que, após o encontro, houve um pedido de dinheiro por parte do pastor Arilton.

“O próprio Arilton disse: ‘olha, eu preciso que você faça uma doação para uma obra missionária’. Perguntei quando seria o valor da obra e ele disse que seria por volta de R$ 100 mil reais”, afirmou.

Segundo denúncia de Brito, enviada ao MPF, um amigo transferiu R$ 17 mil para Wesley Costa de Jesus, genro do pastor Gilmar. Para ex-gerente de projetos da Secretaria Executiva do Ministério da Educação, Luciano Musse, teriam sido dados R$ 20 mil em propina a pedido do pastor Arilton Moura para intermediar um encontro. Para Helder Diego da Silva Bartholomeu, genro do pastor Arilton Moura, teriam sido pagos R$ 30 mil.

O dinheiro seria, segundo Brito, para atender o pedido do pastor Arilton, que teria indicado as contas para transferências. “Eu disse, olha, foi feito o depósito e aqui está o comprovante da doação. Não me levantou nenhuma suspeita”, afirmou.

Segundo o empresário Brito, a desconfiança começou quando ele recebeu uma ligação do pastor Arilton exigindo a compra de passagens áreas. “Ele ficou pressionando, dizendo que se não tivessem as passagens, não haveria o culto. E aí, eu começo a descobrir um cara não cristão. Um picareta”, disse.

As passagens foram compradas por Brito para os pastores Arilton e Gilmar e para mais seis pessoas do grupo. Entre eles, Luciano e Helder, que receberam parte da doação. O valor das passagens somou cerca de R$ 24 mil.

Agosto de 2021: Evento com pastores em Nova Odessa

O evento com os pastores Arilton e Gilmar, em Nova Odessa, interior de São Paulo, ocorreu em agosto de 2021. Durante o encontro na cidade, foi pedido uma outra doação no valor de R$ 10 mil. Em setembro do ano passado, Brito disse que foi até Brasília e fez as denúncias ao ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, que teria perguntando se ele aceitava falar em depoimento.

O escândalo do MEC, como ficou conhecido, foi revelado em março. Após a abertura do inquérito pela PF no dia 25 daquele mês para investigar o caso, Milton Ribeiro deixou pasta.

No dia 18 de março, o Jornal o Estado de São Paulo publicou uma reportagem revelando que um grupo liderado por Arilton e Gilmar controlava a agenda do ministro Milton Ribeiro e também investimentos públicos.

Depois da denúncia de Brito, houve ainda, segundo o empresário, três outros encontros entre o pastor Arilton Moura e Milton Ribeiro registrados na agenda oficial do ex-ministro.

Defesas

De acordo com a Defesa de Gilmar Santos, o pastor falou que não se recorda de ter sido apresentado a Edvaldo José Brito e que não sabia que empresário tinha pago as passagens aéreas. Sobre os R$ 17 mil transferidos ao genro Wesley, o pastor afirmou que a quantia foi destinada à produção de bíblias e são distribuídas gratuitamente.

A defesa do pastor Arilton afirmou que vai se manifestar apenas nos autos.

O advogado de Luciano Mussi disse que seu cliente nunca recebeu nenhuma espécie de benefício ou vantagem para interferir ou favorecer terceiros no Ministério da Educação (MEC).

A reportagem não conseguiu falar com Helder da Silva Bartholomeu.

A defesa de Milton Ribeiro falou que “o ex-ministro não cometeu qualquer ilicitude e que nem ele, nem ninguém tinha ou tem poder para favores pessoas, cidades ou estados porque há todo um procedimento formal que regula o andamento e avaliação dos benefícios pretendidos”.

Os advogados dele disseram ainda que vão juntar no inquérito todos os documentos evidenciando a lisura da venda do carro.

Prefeito de Piracicaba diz que recebeu pedido de custeio

O prefeito de Piracicaba (SP), Luciano Almeida (DEM), confirmou no dia 25 de março deste ano, que recebeu por contato telefônico a oferta de realização de um evento com a presença do ministro da Educação, Milton Ribeiro, mediante pagamento de custos pela administração municipal.

Na esteira da revelação de um áudio, divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo, no qual o ministro diz que, a pedido do presidente Jair Bolsonaro repassa verba a municípios indicados por pastores, começaram a surgir denúncias de prefeitos sobre propinas que os pastores pediam para facilitar a liberação das verbas do MEC.

A afirmação do prefeito de Piracicaba foi feita inicialmente em reportagem do jornal “Folha de S. Paulo” e, posteriormente, confirmada em nota ao g1.

Segundo a nota enviada pela assessoria da administração municipal, o prefeito recebeu ligação de uma pessoa perguntando se existia interesse da prefeitura local em realizar um evento com a presença do ministro. “Por se tratar de uma ligação telefônica, não é possível afirmar que era um representante do Ministério da Educação”, acrescentou.

Para viabilizar o evento, também conforme o comunicado do prefeito, seria necessário arcar com custos de hospedagem, alimentação e passagens. “A prefeitura não aceitou arcar com essas despesas e, portanto, Piracicaba não sediou o evento”, finalizou.

VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região

Fonte G1 Brasília

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