Na noite de sexta-feira, enquanto Cuiabá fervia no calor das ruas, Mauro Mendes, o governador-maratonista, esbanjava fôlego e vitalidade numa animada pelada no condomínio de luxo onde reside. Aos 60 anos, sua resistência impressiona — talvez porque a arte de correr (da imprensa, de polêmicas, de explicações incômodas) já tenha se tornado parte de sua rotina.
O que poderia ser apenas um jogo despretensioso entre vizinhos acabou virando um evento jurídico. Afinal, no mesmo condomínio moram advogados estrelados, muitos deles com um olho na bola e outro na cobiçada vaga de desembargador que será aberta em junho com a aposentadoria de Luiz Ferreira da Silva.
Assim que souberam que Mauro estava jogando, os doutos juristas não hesitaram: correram para a beira do campo, torceram, vibraram, aplaudiram e, quem sabe, aproveitaram o intervalo para um sutil “networking” à beira do gramado. O governador, no entanto, seguiu firme no seu jogo, driblando adversários e, talvez, as manchetes dos últimos dias.
Porque, sejamos francos: não há coincidências na política. Justamente quando enfrenta o escândalo da espionagem da Casa Militar, denunciado pelo sargento Eros, e a pressão popular contra o milionário BRT, Mauro escolheu um ambiente seleto e blindado para uma exibição pública.
Nada de peladas nos bairros periféricos, onde o povão, cansado de promessas, poderia perguntar sobre ônibus caros e investigações secretas. Melhor a grama aparada do condomínio milionário, onde os aplausos vêm sem cobrança e as perguntas são sussurradas.
No fim, cada um joga com o time que tem. E, pelo visto, no condomínio de luxo, Mauro Mendes já tem sua torcida organizada.