Em vídeo publicado em suas redes sociais, o ex-candidato a deputado estadual Moarcir Couto — que obteve votação pífia no Araguaia pelo PP em 2022 — aproveitou o chocante episódio envolvendo o vereador e médico de Canarana, preso por estupro de vulnerável e exploração sexual infantil, para promover um discurso anacrônico contra o uso das plataformas digitais no ambiente político. Ao sugerir que o caso seria um exemplo do perigo de se eleger “candidatos de Instagram”, Couto não apenas ignorou as complexas causas que levam indivíduos a cometer crimes hediondos, como também demonstrou uma leitura superficial e ressentida do papel democratizador das redes sociais na política contemporânea.
A crítica de Moarcir Couto, revestida de aparente moralismo, parece refletir mais a frustração pessoal por sua derrota eleitoral do que uma análise séria e embasada. Pesquisas acadêmicas em ciência política e comunicação têm demonstrado que as redes sociais, quando bem utilizadas, ampliam o acesso da população a debates públicos, diversificam as fontes de informação e permitem maior interação entre eleitores e representantes — elementos essenciais em democracias pluralistas. Criminalizar o uso dessas ferramentas a partir de um caso isolado é um equívoco lógico e metodológico.
O que faltou na fala do ex-candidato foi justamente a ponderação: o que deve ser combatido é o mau caráter de determinados indivíduos — independentemente de suas estratégias de campanha — e não o avanço das tecnologias que, ao contrário do que sugere Couto, vêm fortalecendo a capacidade do cidadão comum de fiscalizar, dialogar e participar da vida pública. Generalizações apressadas e preconceituosas como a proferida em seu vídeo apenas servem para alimentar um saudosismo elitista, que teme a perda do monopólio da comunicação política para o povo.