O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou nesta quarta-feira (16) que Walter Delgatti Neto recorra ao silêncio em depoimento na CPI dos Atos Golpistas, previsto para esta quinta (17).
Delgatti ficou conhecido por ter vazado, em 2019, mensagens atribuídas ao então ministro da Justiça e ex-juiz Sergio Moro, a integrantes da força-tarefa da Lava Jato e outras autoridades.
Recentemente, o “hacker de Araraquara” voltou à mira da Polícia Federal pela invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para a inclusão de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O hacker foi convocado a depor pelos membros da CPI no último dia 3.
A decisão de Fachin atende a pedido da defesa de Delgatti. Os advogados haviam acionado o Supremo na tarde desta quarta.
Os advogados defenderam que a Corte assegurasse ao hacker o direito de ficar em “silêncio absoluto” diante de perguntas que pudessem incriminá-lo.
“No caso, existem indícios de que o paciente possa ser alvo de constrangimentos durante o seu depoimento, o que poderá acarretar uma confissão de culpa”, afirmam.
Ao analisar o pedido, Fachin decidiu que Walter Delgatti Neto poderá:
- recorrer ao silêncio
- e contar com a assistência de um advogado durante o depoimento
Além disso, ele também terá o direito de “não sofrer constrangimentos físicos ou morais decorrentes do exercício dos direitos anteriores”.
O ministro rejeitou, no entanto, um quarto pedido da defesa, para garantir a Delgatti o direito de encerrar, por decisão própria, o depoimento.
Fachin avaliou que não foi possível concluir se a convocação de Delgatti se deu na qualidade de testemunha ou de investigado.
No primeiro caso, a presença não é obrigatória, mas o depoente deve responder a todos os questionamentos. Já no segundo, a participação é obrigatória, mas o investigado pode recorrer ao silêncio para não se incriminar.
“Havendo dúvida sobre essa condição, deve-se privilegiar a presunção de constitucionalidade da atuação congressual, razão pela qual, ao menos por ora, não é possível acolher o pedido para garantir ao paciente o direito de encerrar o seu depoimento”, escreveu Fachin.
Relação com Zambelli
Delgatti foi ouvido pela Polícia Federal nesta quarta (16). Foi a segunda vez em que o hacker depôs sobre a relação com a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e um plano para invadir sistemas do Judiciário.
Investigado pela tentativa de invasão à Justiça, o hacker está preso desde o início de agosto. Ele foi detido em operação da PF, que também contou com buscas e apreensões em endereços de Zambelli.
Segundo o advogado Ariovaldo Moreira, no depoimento, o hacker complementou informações e apresentou provas à PF de que foi contratado pela deputada para “invadir qualquer sistema do Judiciário”.
Em entrevista a jornalistas, Moreira declarou que Delgatti recebeu R$ 40 mil pelo serviço.
“Ele faz provas de que recebeu valores da Carla Zambelli. Segundo o Walter, o valor chega próximo a R$ 40 mil. Foi próximo a R$ 14 mil em depósito bancário. O restante, em espécie. [Para] invadir qualquer sistema do Judiciário”, disse o advogado.
Em depoimento à PF, Delgatti disse que esteve no Palácio da Alvorada e que, na ocasião, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) teria questionado a ele se seria possível invadir as urnas eletrônicas.
O encontro entre o hacker e Bolsonaro foi articulado por Zambelli.
À imprensa, a defesa de Carla Zambelli afirmou que a deputada “rechaça qualquer acusação de prática de conduta ilícita e imoral pela parlamentar, inclusive, negando qualquer tipo de pagamento ao mencionado hacker”.
Fonte G1 Brasília