A forma como a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), tratou o projeto da anistia na quinta-feira (10) revoltou alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Falar sobre anistia ou mediação de pena em relação a algumas pessoas do 8 de janeiro eu acho que é defensável do ponto de vista de alguns parlamentares”, afirmou Gleisi. “Acho que a gente até pode fazer essa discussão no Congresso. Mas o que está ali são os responsáveis. Isso não pode acontecer jamais?, completou.
Na avaliação dos magistrados ouvidos pelo blog, essa sinalização do governo sugere medo de a oposição conseguir os votos necessários para levar o projeto adiante, e que o Executivo toparia um acordo para reduzir penas em troca de evitar a aprovação da anistia ? um perdão total dos envolvidos com o qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vê como saída política para não ser preso.
No fim da noite desta quinta-feira (10), a oposição conseguiu os 257 votos necessários para dar início à tramitação de um pedido de urgência para que o projeto seja votado direto no Plenário, sem precisar passar por comissões (o que torna a tramitação mais lenta e pode inviabilizar a proposta).
“O governo não tinha que piscar, não”, disse um ministro ao blog. “Não é papel deles [discutir a anistia].”
Outro ministro classificou a fala como um absurdo, e vê o governo fazendo “jogo [Hugo] Motta”, presidente da Câmara dos Deputados, que tem as demandas do governo e está pressionado pelos bolsonaristas.
Um terceiro ministro vai na mesma linha, e diz crer que o governo está emparedado pelo Congresso. Além disso, avalia que a repulsa de Lula à prisão ? à qual ele foi submetido ? pode torná-lo sensível à demanda de anistia, ao menos para parte dos réus.
Esse magistrado dá como certa a aprovação do PL da anistia na Câmara, considera que no Senado o cenário é mais incerto, e lembra que o STF pode vir a barrar o texto dependendo da forma final que sair do Congresso.
Integrantes do Planalto também condenaram a fala de Gleisi, e garantem que não teve aval de Lula. Pelo contrário: afirmam que a ?frase dela não tem sentido? e que “não cabe ao Parlamento definir as penas?.
Fonte G1 Brasília