O seminário do PT para debater os rumos do partido ficou marcado por críticas contundentes e generalizadas à comunicação do governo. A insatisfação com o tema já apareceu outras vezes. A diferença é que, dessa vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva endossou e inflamou as queixas, num discurso que misturou autocrítica e sinais de insatisfação com o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta.
À luz do discurso do presidente, auxiliares de Lula e dirigentes do PT avaliam que Pimenta está muito desgastado e deverá ser substituído no início do ano que vem. Ao mesmo tempo, o PT cobra uma mudança de postura do próprio presidente, que admite a necessidade de adotar um comportamento diferente daqui para frente.
Em discurso aos petistas, Lula afirmou que ele precisa dar mais entrevistas, algo que é raro quando ele está em Brasília. O presidente quase sempre ignora apelos de jornalistas para entrevistas improvisadas, os chamados ?quebra-queixos?. Também são raros os pronunciamentos em rede nacional. O PT aprovou, em resolução, um pedido para que Lula torne esses pronunciamentos mais recorrentes, e não só em datas especiais.
Outro ponto que deve ser modificado é a comunicação digital do governo. Lula está irritado com o fato de a Secom não ter concluído uma licitação para contratar quatro empresas especializadas em comunicação digital. A licitação foi interrompida em julho deste ano, após o TCU (Tribunal de Contas da União) identificar suspeitas de vazamento do edital.
A licitação prevê investimentos de quase R$ 200 milhões por ano. A avaliação no Planalto é que, sem as contratações, é impossível equilibrar o jogo nas redes sociais no embate com a extrema-direita e conseguir pautar o debate no ambiente digital.
Lula costuma repetir a seus ministros que o governo já fez muitas entregas, mas que os resultados não alcançam a maioria da população. Não raro, as falhas na comunicação são apontadas como as razões centrais para as dificuldades do presidente em melhorar a popularidade.
Por outro lado, há uma avaliação de dirigentes do PT e também de integrantes do governo de que há um problema de origem, anterior ao da comunicação propriamente dita: a falta de coordenação no Planalto, sem a consolidação, até agora, de um núcleo dirigente do governo, capaz de organizar e preparar melhor a disputa política.
Marqueteiro ganha força
O publicitário Sidônio Palmeira, que atuou como marqueteiro de Lula em 2022, é um nome especulado para substituir Pimenta. Ele tem sido chamado, com frequência cada vez maior, para colaborar com o governo em momentos críticos. Participou, por exemplo, da produção do pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para lançar o pacote fiscal.
Sidônio foi convidado para ser ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social) durante a transição de governo, mas recusou o convite. O publicitário, que mora na Bahia, não quis largar os negócios para se dedicar exclusivamente ao governo. Petistas entendem que, diante de um apelo de Lula, é possível que, agora, ele aceite ser ministro.
Outro nome mencionado está dentro do Palácio do Planalto. Trata-se do jornalista Laércio Portela, que hoje é o secretário-adjunto da Secom. Portela foi titular da pasta interinamente durante quatro meses, período em que Pimenta foi deslocado para ocupar a secretaria extraordinária para apoio à reconstrução do Rio Grande do Sul.
A atuação de Pimenta diante da tragédia no Sul foi considerada positiva no governo. Da mesma forma, Portela foi bem avaliado por Lula e outros ministros enquanto esteve à frente da Secom. Nesta fase, o presidente concedeu várias entrevistas, sobretudo a rádios do interior, e conseguiu pautar o debate nacional em muitas oportunidades.
Pimenta detém a absoluta confiança de Lula e conta com a simpatia da primeira-dama, Janja da Silva. Caso seja substituído na Secom, ele poderia ser deslocado para outra pasta, como a Secretaria-Geral da Presidência, ocupada hoje por Márcio Macêdo, que também tem sido alvo de reclamações constantes do presidente.
O prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, sempre apareceu nas bolsas de aposta como um nome para a Secom. Nesse momento, no entanto, ele é o preferido de Lula para assumir a presidência do PT em junho, quando termina o mandato de Gleisi Hoffmann. Em função disso, a hipótese de que ele assuma um ministério perdeu força.
Além de Pimenta e Macedo, Lula tem se queixado, reservadamente, de outros ministros petistas, como Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário). A aposta no Planalto é que o presidente faça trocas nessas pastas nos primeiros meses de 2025, reorganizando seu time para a segunda metade do governo.
Ao mesmo tempo, partidos de centro já começaram a pressionar Lula para que amplie o espaço das siglas na Esplanada dos Ministérios. É o caso do PSD, que abriu mão do Ministério da Pesca, hoje ocupado por André de Paula, que é do partido, e reivindica a um pasta de maior porte, com orçamento mais robusto e com maior capacidade de entregas.
Fonte G1 Brasília