A indicação do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) para a relatoria do projeto antifacção foi recebida pelo Palácio do Planalto como um ato político deliberado do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). A avaliação do governo é que Motta indicou o secretário de segurança pública de um governador de SP, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é declaradamente oposição ao presidente Lula e que pretende disputar a eleição em 2026.
Em entrevista à GloboNews, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que a escolha está “contaminada com a questão política” e que o tema da segurança pública “tem tudo a ver com 26”.
Gleisi revelou que tentou intervir para evitar a nomeação.
“Eu conversei com o presidente Hugo Motta na sexta-feira. Disse a ele que isso não seria positivo, que não seria bom. Soaria inclusive com desrespeito ao governo, ao próprio presidente, porque era um projeto do governo”, afirmou.
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Segundo a ministra, o governo não pedia um relator “aliado próximo”, mas “uma pessoa mais neutra, que pudesse fazer a discussão sem estar contaminada”. Em conversas de bastidores, Hugo Motta tem argumentado que não escolheu “um homem de Tarcísio”, mas “o secretário de segurança pública do maior estado do país”.
Gleisi rebateu o argumento: “Eu discordo dele. Ele indicou o secretário de segurança de um governador que é declaradamente oposição ao presidente, que pretende disputar a eleição, e já com uma visão política muito determinada sobre o tema”.
Para o governo, a contaminação política transparece no conteúdo do relatório, que Derrite apresentou em 24 horas. Gleisi aponta “problemas muito sérios” e duas “grandes decisões políticas” no texto: equiparar facções a terrorismo e limitar a Polícia Federal.
- O ‘problema’ da Lei Antiterrorismo: a ministra questionou por que Derrite levou a proposta para a Lei Antiterrorismo, e não para a lei de combate a facções enviada pelo governo. “Se não era para fazer equivalência [com terrorismo], por que não aumentar a pena no projeto que o governo mandou? Nós não somos contra aumentar a pena”, disse Gleisi.
- Barrar a PF: a crítica mais dura, que a ministra chamou de “matadora”, é a parte do relatório que “tira a Polícia Federal da investigação de organizações criminosas”, exigindo autorização do governador do estado para que a PF atue. Gleisi usou a Operação Carbono Oculto como exemplo do prejuízo que essa regra causaria. “Pelo relatório do deputado Derrite, se fosse lei já, a Polícia Federal teria que ter pedido autorização para o governador de São Paulo”, concluiu.
Relatório de Derrite ‘tira a Polícia Federal da investigação’, diz Gleisi
A crítica mais dura da ministra Gleisi Hoffmann ao parecer de Guilherme Derrite, chamada por ela de “matadora”, é a restrição imposta à Polícia Federal. O texto do relator propõe que a PF só possa investigar organizações criminosas se for “provocada” pelo governador do estado.
“Essa pra mim é matadora: é tirar a Polícia Federal da investigação de organizações criminosas”, afirmou a ministra.
Gleisi usou a Operação Carbono Oculto como exemplo prático do prejuízo que essa regra causaria.
“Pelo relatório do deputado Derrite, se fosse lei já, a Polícia Federal teria que ter pedido autorização para o governador de São Paulo”, disse.
Ela lembrou que a operação tem um braço no Rio de Janeiro e investiga a refinaria de Manguinhos, e que o próprio governador Cláudio Castro (PL) pediu à Justiça a reabertura da refinaria. “Então imagina, você acha que o governador Cláudio de Castro daria autorização ou pediria à Polícia Federal para fazer investigação?”, questionou Gleisi.
Para a ministra, a medida é uma “loucura” que “vai blindar o crime organizado”, retirando do combate a força policial que, segundo ela, tem a expertise de “mirar o dono do dinheiro” e “pegar os chefões”.
Fonte G1 Brasília