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Grilagem na Terra Indígena Batelão expõe políticos de Lucas do Rio Verde: Marino Franz e Miguel Vaz ligados à Fiagril, que lucra enquanto indígenas são expulsos

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Terra sem dono, lucro sem culpa e promessas sem fim. Esta é a realidade na Terra Indígena Batelão, no coração de Mato Grosso, onde o território ancestral dos Kayaweté Kayabi permanece há décadas sob domínio de grandes fazendeiros e empresas do agronegócio, enquanto seus legítimos donos seguem exilados a 150 quilômetros dali.

Embora os limites territoriais da Batelão tenham sido declarados pela FUNAI, 75% da área está registrada como propriedade privada no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Ali operam 29 fazendeiros — entre eles políticos de peso, como Marino Franz, ex-prefeito de Lucas do Rio Verde e um dos fundadores da Fiagril, e Miguel Vaz, atual prefeito do município e também ligado à empresa. A mesma Fiagril que acessa bilhões no mercado financeiro através de instrumentos como CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) e FIAGRO, vendendo a imagem de uma agricultura “sustentável”, enquanto é acusada de usar terras indígenas invadidas como lastro para seus negócios.

A história de violência e usurpação começou nos anos 1960, quando o povo Kayaweté foi forçado a abandonar o Batelão na chamada Operação Kayabi, sob comando dos irmãos Villas-Bôas. Parte dos indígenas foi levada para o Parque Nacional do Xingu; outra parte fugiu, remando rios abaixo, para aldeias como Tatuí. Nos anos 2000, uma tentativa de retomada do território esbarrou em ameaças veladas: “Se vocês subirem mais, eu não sei o que vai acontecer”, relatou um segurança a um dos indígenas, numa cena que misturava intimidação e a mais crua violência simbólica.

O agronegócio, impulsionado por um sistema financeiro indiferente a irregularidades socioambientais, transformou o Batelão em ativo rentável. Empresas como a FS Bioenergia — onde políticos de Mato Grosso também mantêm interesses — e a própria Fiagril, são celebradas em campanhas de “greenwashing” como símbolos da sustentabilidade brasileira, mesmo que seus alicerces se sustentem sobre terras indígenas não regularizadas, denúncias de grilagem e registros de desmatamento no Ibama.

Enquanto o marketing verde exalta um “mundo melhor e carbono zero”, os indígenas Kayaweté continuam vivendo longe de sua terra, impedidos de pescar, caçar, plantar ou enterrar seus mortos onde seus ancestrais um dia caminharam. “A terra do Batelão é nossa. Lá tinha peixe, tinha caça, tinha vida. Agora não sei se ainda existe, se o fazendeiro já destruiu tudo”, lamenta uma anciã Kayaweté.

Promessas de demarcação se arrastam há 20 anos. “Agora falam que vai demarcar. Agora tem que demarcar mesmo: colocar placa, marcar com cimento, homologar, registrar”, exige um dos líderes, cansado das palavras vazias que há décadas substituem a justiça.

Enquanto a Fiagril e seus sócios seguem ganhando milhões no mercado de capitais, os Kayaweté seguem ganhando apenas o silêncio — um silêncio tão profundo quanto o rio Batelão, onde, há muito tempo, ecoavam os cantos de seus ancestrais

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