A Polícia Federal afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que as investigações até o momento apontam o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) como a “peça central” de um esquema para desviar verbas parlamentares para benefício particular.
Equipes da PF fizeram buscas nesta sexta (25) em endereços ligados a Gayer e a assessores em Brasília e quatro cidades de Goiás, incluindo a capital Goiânia.
O celular do parlamentar foi apreendido. Policiais também encontraram R$ 72 mil com um assessor do político.
Os 19 mandados de busca e apreensão foram autorizados pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, com manifestação favorável também da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Segundo a decisão de Moraes, Gustavo Gayer é “apontado nas investigações como peça central da associação criminosa investigada e autor intelectual dos possíveis crimes […], responsável por direcionar as verbas parlamentares para atividades de particulares”.
“Efetivamente, os indícios colhidos pela Polícia Federal revelam que o Deputado Federal Gustavo Gayer teria empregado seus secretários parlamentares, remunerados com recursos públicos, para o desempenho de demandas privadas, bem como teria utilizado verbas públicas para manter, ainda que parcialmente, essas atividades privadas, uma vez que funcionariam em local custeado com verbas de cota parlamentar”, diz outro trecho do despacho.
Gayer nega irregularidades
O g1 e a TV Globo tentam contato com Gayer. Em uma rede social, o deputado postou que foi acordado às 6h “com a minha porta sendo esmurrada pela Polícia Federal”.
“O que eu sei até agora é que esse inquérito foi aberto no mês passado, 24 de setembro, né? Está aqui, ó, não dá para saber nada, ter nenhuma informação do que se trata. Sei que alguns assessores meus também receberam a busca e apreensão”, disse Gayer no vídeo.
“Vieram na minha casa, levaram meu celular, HD, meu SSD. Essa democracia relativa está custando caro para o nosso país. Alexandre de Moraes determinou essa busca e apreensão agora, aqui no documento não fala o porquê. Numa sexta-feira, sendo que a eleição é no domingo”, seguiu.
O político não é candidato no segundo turno das eleições, mas atua na campanha de um dos concorrentes à prefeitura de Goiânia.
“Já estamos providenciando a habilitação nos autos, que poderá ser admitida somente por Alexandre de Moraes, sem prazo certo e determinado. Entendemos que ações deste tipo não podem ser deflagradas no ápice do processo eleitoral, posto que atos judiciários interferem diretamente na política local, o que coloca em xeque a seriedade das decisões”, disse Gayer em nota divulgada pela assessoria.
As suspeitas sobre Gayer e assessores
Gayer é suspeito de ter desviado recursos públicos de verbas parlamentares para financiar suas empresas particulares, como uma escola de inglês e uma loja de camisetas em Goiânia.
Segundo as investigações, existe a suspeita de que Gayer também teria participado ativamente na criação e manipulação de entidades fictícias para desviar verbas por meio de emendas parlamentares.
“As quebras de sigilo das mídias eletrônicas indicam que Gustavo Gayer, por intermédio de seus assessores, teria adquirido uma associação inativada que satisfizesse o requisito temporal, com a intenção de qualificá-la como entidade do terceiro setor, com o fim de utilizá-la para o recebimento de verbas públicas destinadas por meio de emendas parlamentares”, diz trecho da decisão de Moraes.
“Portanto, das apurações efetivadas pela Polícia Federal, é possível extrair indícios veementes de que a aquisição de associação privada e posterior adulteração dos documentos a ela relacionados, pela associação criminosa, ocorreu com o intuito de qualificá-la para angariar e gerir recursos públicos, destinando-os para fins não previstos legalmente”, segue o texto.
Gayer é descrito como a figura central no esquema, liderando as operações tanto no seu gabinete parlamentar quanto nas empresas privadas associadas a ele e à sua família.
De acordo com as suspeitas da PF, ele teria coordenado um esquema com assessores parlamentares para administrar essas atividades, mascarando seu envolvimento com o uso de ?testas de ferro? para operar as empresas.
As investigações apontam que o deputado Gustavo Gayer e assessores são suspeitos de participação em esquemas de desvio de recursos públicos, associação criminosa e falsificação de documentos.
‘Discalculia’
A operação foi chamada de “Discalculia” ? nome dado a um transtorno de aprendizagem relacionado a dificuldades com matemática.
De acordo com a PF, as investigações identificaram uma ata falsificada nos documentos de criação da organização social.
No quadro social da entidade, havia nomes de crianças com idades entre 1 e 9 anos.
Fonte G1 Brasília