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Haddad, Tarcísio e Rodrigo escolhem a paleta de cores semelhante e focam no verde; ideia é parecer jovem, diz especialista

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Embora adversários, ao menos em um ponto os três candidatos mais bem colocados na disputa pelo governo de São Paulo convergem: no uso de paletas de cores semelhantes em suas campanhas.

Segundo Ana Claudia Cortez, mestra em direitos humanos pela Universidade de Brasília (UnB) e doutoranda em Ciência Política na Universidade de São Paulo (USP), com o aumento da polarização no país desde as manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, grupos ligados à direita passaram a utilizar o verde e amarelo como parte de sua identidade visual e o vermelho ficou associado à esquerda.

?As cores nesses casos carregam posicionamentos políticos, partidários e ideológicos desses indivíduos. Não é raro ouvirmos a frase: ?Nossa bandeira jamais será vermelha? na boca de políticos e partidos de direita. Nesta eleição, partidos e políticos de esquerda têm utilizado o verde e amarelo numa tentativa de disputar as cores da bandeira nacional?, diz.

A especialista comenta que não são raros os relatos de pessoas que sofreram agressões físicas e verbais por vestirem uma camiseta ou um boné de cores ligadas aos dois campos ideológicos.

Em 2021, um jornalista em Sorocaba (SP) foi agredido durante uma manifestação por conta da capinha do celular vermelha, por exemplo.

Para o advogado Renato Ribeiro de Almeida, especialista em direito eleitoral pela USP, a escolha das cores é fundamental numa campanha, mas não se pode fazer uso dos símbolos nacionais.

“Totalmente vedada a utilização de símbolos nacionais, porque os símbolos nacionais tendem a confundir o eleitor que aquilo ali é algo oficial. Então, evidentemente, não se pode usar, por exemplo, o brasão da República num santinho de candidatos.”

Clotilde Perez, professora titular de semiótica da ECA USP, fez uma análise das cores e imagens usadas por Fernando Haddad (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Rodrigo Garcia (PSDB) em sites e redes sociais.

Os três candidatos usam a tonalidade verde. Segundo a especialista, a cor misturada com o amarelo e azul vem carregada de sentidos “relativamente ambíguos”.

“[O verde] é vitalidade, frescor e refrescância pelas associações ao ambiente natural ? flores, folhas e águas. Por outro, se conecta aos sentidos de descanso, relaxamento, calmaria e esperança. Carrega os sentidos afetivos de bem-estar, equilíbrio e juventude. Em suas tonalidades mais claras, buscam as associações de ainda maior acolhimento e calmaria.”

Nas tonalidades empregadas nas campanhas dos candidatos, os tons verdes atuam em vários sentidos, conforme a professora de semiótica.

  • Atenuam as cores intensas já presentes;
  • Aportam jovialidade;
  • Associam-se à inovação e criatividade.

Fernando Haddad

A imagem está em meio ao pacote de artes nas redes do candidato. De acordo com a especialista, há diversidade cromática, com destaque para as cores quentes, como vermelho, laranja, amarelo.

?Maior destaque para a vermelha ? signo de intensidade, vigor, força e identidade com o partido e histórico de lutas sociais. As cores frias equilibram e suavizam a intensidade geral da peça.?

Com relação a uma das imagens, a professora detalha que a foto mostra semblante ?convidativo ao diálogo?.

?Um semisorriso que aproxima e desperta confiança. Apesar dos espaçados cabelos grisalhos e aliança na mão esquerda [casado, com família], transmite jovialidade ? intensificada pelo uso combinado entre camiseta branca básica e camisa jeans aberta?, explica.

?O candidato é uma pessoa já conhecida, não precisa imprimir seu nome, apenas um discreto ?H? associado ao seu número, bastam. O estado de São Paulo surge por meio de figuras construídas como dobraduras, imprimindo movimento, que se converte em cenário para abrigar a fotografia do candidato.?

Tarcísio de Freitas

Clotilde Perez comentou sobre a foto usada por Tarcísio nas redes sociais, a qual afirma ser ?simplificada, marcada pela reiteração das cores verde, azul e amarela?.

?Explora as cores ?nacionais? para reforçar o vínculo com o Governo Federal e suas propostas características. A reiteração dos mapas de SP nas cores do Brasil, como suporte para a fotografia do candidato, assume a centralidade figurativa da peça. Precisa e explicitar, esteticamente, seu ?vínculo? com o estado?, analisa.

Com relação à fotografia, o candidato aparece com um sorriso aberto e camisa branca.

?A camisa branca impõe uma condição de seriedade e padronização ? sem relevo, sem marcas identitárias. A figuratividade dos mapas de São Paulo nas cores verde, azul e amarela esverdeada, se expressam em um contexto quadricular, imprimindo uma ?textura? que pasteuriza e homogeniza o conjunto. Sobra uma conexão com o nacionalismo ao mesmo tempo que se distancia do próprio estado?, completa.

Rodrigo Garcia

A mesma imagem abre o site e está nas redes sociais do candidato. As cores são predominantemente frias, com variações em verdes e azuis. Mesmo a cor que carrega a potencialidade de aquecimento, amarela, surge esverdeada.

?São tonalidades não óbvias, portanto se recobrem de inovação, frescor e jovialidade. As variações da cor ?Tiffany? [uma variação do turquesa] colaboram para construir boas conexões com sofisticação. O aporte da cor púrpura traz os sentidos de permanência e diferenciação. É uma cor com associações nobres, refinadas e de elevada distinção.?

A fotografia, conforme a especialista, expressa um candidato relativamente jovem, disposto e simpático.

?Sorri e direciona o olhar ao leitor, buscando construir um vínculo de sentido pela simpatia explícita. A camisa preta lisa, sem gravata, reforça a descontração, além de permitir bom contraste com a paleta de cores. Busca reforçar a identidade do candidato ?Rodrigo?, chamando-o pelo primeiro nome, expressa intimidade. Seu nome surge com destaque, além de ter impresso o próprio estado. O estado também aparece de forma intensa por meio das letras SP, que dão suporte e sustentação aos elementos figurativos e textuais.?

Fonte G1 Brasília

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