Por um instante, feche os olhos e imagine que estamos na Colômbia dos anos 90. Agora abra: bem-vindo ao Mato Grosso de 2025. Em pleno território de gente que tira da terra o próprio pão, o governador Mauro Mendes decide empunhar uma pluma de chumbo e assina, com toda pompa jurídica, um pedido ao STF para autorizar a expropriação de terras onde houver desmatamento ilegal ou queimadas criminosas. Parece a trama de um thriller distópico, mas não — é o Brasil tentando resolver um problema ambiental com um porrete institucional, mirando o alvo certo com o olho vendado.
Foi preciso uma voz lúcida, Janaína Riva, para fazer eco à perplexidade de milhares de pequenos e médios produtores rurais que vivem esmagados entre a burocracia e o abandono. Em um vídeo gravado com firmeza e clareza, a deputada não apenas alertou o povo, mas também colocou o dedo na ferida institucional: como se pode falar em justiça quando o próprio Estado admite sua ineficiência em fiscalizar, cobrar e punir corretamente?
Sim, o governo reconhece que multas não são pagas, embargos são ignorados e que, por isso, a solução é o confisco. Uma lógica perversa: já que não consigo organizar a fila, decido tirar a senha de todos.
E como separar o criminoso ambiental do trabalhador empurrado para a ilegalidade pela lentidão do sistema? Como distinguir o que é queimada dolosa do fogo que o vento espalhou por cinquenta propriedades vizinhas? No Mato Grosso, a fila para análise de Cadastro Ambiental Rural (CAR) levaria 110 anos para ser zerada, segundo dados da própria Profir. Nesse ritmo, a regularização fundiária será concluída antes por dinossauros ressuscitados do que por técnicos ambientais.
Parabéns à deputada Janaína Riva — rara figura na política mato-grossense com coragem para apontar o óbvio ululante: que o direito à propriedade não pode ser rifado em nome da ineficácia estatal. Sua fala é um sopro de razão em meio a uma atmosfera carregada de autoritarismo disfarçado de zelo ambiental.
O que se pretende, afinal? Tomar terra por desmate, por fogo, por multa, por qualquer vento contrário? A proposta não combate o desmatamento. Ela criminaliza a terra em si, tratando o campo como um presídio verde, onde qualquer faísca vira sentença.
Em tempos onde a palavra “sustentável” virou muleta de planos insustentáveis, cabe à sociedade — e à Assembleia — dizer um basta. Se o Brasil quer proteger a floresta, que comece protegendo os que vivem dela honestamente.
Janaína Riva falou. E o Mato Grosso escutou. O resto do Brasil precisa ouvir também.