O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participará nesta quarta-feira (9), da Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Tegucigalpa (Honduras).
?O encontro acontece num contexto em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o chamado “tarifaço”, isto é, a imposição de tarifas a países do mundo que, no entendimento da Casa Branca, “roubam” os EUA na relação comercial.
Desde que o anúncio foi feito, na semana passada, países como a China e blocos como a União Europeia passaram a articular uma reação ao “tarifaço”. Além disso, México e Canadá já vinham anunciando medidas ao longo das últimas semanas.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, é possível que os chefes de Estado e de governo presentes à cúpula da Celac queiram abordar o tema em seus discursos.
Entretanto, diante das situações econômicas distintas entre os países do grupo, diplomatas preveem dificuldade para que saia posição conjunta do bloco sobre o tema.
Isso porque, por exemplo, segundo o Itamaraty, os países foram taxados de maneiras diferentes; têm relações comerciais diferentes com os Estados Unidos; e sentirão de formas distintas os impactos do tarifaço – leia detalhes mais abaixo.
No caso do Brasil, a taxa imposta por Trump foi de 10%, a exemplo de outros países da região como Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Colômbia, além de alguns aliados dos EUA em outros continentes, como o Reino Unido e a Austrália.
Mas também há países da América Latina com tarifas superiores, entre os quais: Venezuela (15%), Nicarágua (18%) e Guiana (38%).
- ?Após o anúncio do “tarifaço”, a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília divulgou um comunicado atribuído à Casa Branca no qual o Brasil, a Argentina e o Equador entre os países que “sufocam” parte da economia americana, acrescentando que Trump não permitirá que os EUA sejam “explorados”.
Em declarações públicas, o presidente Lula já afirmou que vai buscar “todas as medidas cabíveis” tendo como base a chamada Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional.
Mesmo assim, integrantes do Ministério das Relações Exteriores e especialistas em relações internacionais entendem que o caminho ainda é o das negociações políticas e diplomáticas.
Situações ‘distintas’
Segundo a secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, Gisela Padovan, a chamada Declaração Final da cúpula da Celac, documento por meio do qual os países participantes divulgam posição conjunta sobre os temas debatidos, já estava em negociação antes do anúncio do “tarifaço”.
Além disso, acrescentou a diplomata, o anúncio por si só não se tornou o tema prioritário para a Celac enquanto bloco de países, pois há outros temas mais urgentes a serem debatidos.
Mesmo assim, se houver o entendimento durante a cúpula de que é preciso a Celac se posicionar sobre o “tarifaço”, o tema pode ser incluído “em um parágrafo” na declaração, afirmou Gisela Padovan.
“Os quadros são muito distintos [em nível] de parceria [com os EUA]. Há países, como o Brasil, que têm o comércio mais equilibrado, há países que têm superávit, como o México, e há outros com comércio muito pequeno. Então, são situações bem distintas e não vejo como, de repente, isso pode se tornar um tema da reunião”, afirmou.
Compromissos a serem fechados
De acordo a diretora do Departamento de Integração Regional do Itamaraty, Daniela Arruda Benjamin, a declaração final da cúpula deverá reiterar o compromisso dos países da Celac por:
- Sistema multilateral de comércio;
- Regras justas para o comércio internacional;
Segundo ela, o “tarifaço” de Trump” e questões específicas dos países na relação com os Estados Unidos não estarão na pauta do encontro.
“[O tema do tarifaço] não está na pauta, concretamente, da reunião. A ideia do encontro é permitir amplo intercâmbio sobre as prioridades. Obviamente que os presidentes, no debate, tendem – é natural – a levantar questões importantes para todos os países da região. Lembrando América Latina e o Caribe compartilham o compromisso com o multilateralismo e com regras de comércio justas”, declarou.
“A ideia é que seja um debate livre dos presidentes sobre as prioridades para a região e sobre suas preocupações. E não há agenda específica voltada a este tema [tarifaço]”, completou.
Fonte G1 Brasília