Num movimento que revela flagrante desalinhamento com os interesses da maioria da população brasileira, o deputado federal José Medeiros gravou um vídeo em que se posiciona contra a medida provisória do governo Lula que isenta de Imposto de Renda os trabalhadores com salários de até R$ 5 mil mensais e concede desconto para quem ganha até R$ 7 mil. Para justificar sua posição, Medeiros lança mão de uma retórica enviesada, em defesa do agronegócio — setor que já desfruta de amplos e historicamente questionáveis benefícios fiscais — enquanto minimiza a importância de garantir alívio tributário justamente para as faixas de renda mais vulneráveis do país.
O mais alarmante, contudo, não é apenas a escolha de lado feita pelo parlamentar, mas a incoerência e a superficialidade de seus argumentos. Ao atacar o ministro Carlos Fávaro, Medeiros acusa o governo de tentar “taxar o agro”, afirmando que a narrativa de que o setor não paga impostos seria uma “balela”. O que omite, deliberadamente ou não, é que o agronegócio brasileiro, especialmente os exportadores de commodities como soja, usufrui de um regime fiscal extremamente vantajoso, com isenções em ICMS, PIS/Cofins e outros tributos em diversos elos da cadeia. Ao mesmo tempo, os trabalhadores e a classe média urbana seguem suportando uma carga tributária proporcionalmente muito mais pesada.
A fala do deputado escancara o verdadeiro temor que permeia parte da elite rural: não a suposta ameaça ao setor produtivo, mas o risco de que políticas redistributivas venham a reduzir privilégios e ampliar a justiça fiscal. Não por acaso, Medeiros vocaliza uma preocupação que ressoa com os interesses de seus aliados mais poderosos, como o megaempresário da soja de Rondonópolis, Balbinotti — potencial financiador de campanhas e de capital político. Ao priorizar a defesa de isenções para os já abastados e atacar benefícios que poderiam melhorar a vida de milhões de brasileiros, o deputado revela uma lógica de representação capturada: não pelo povo, mas pelos barões do agronegócio.