Eu confesso que há dias em que me pergunto se a política virou mesmo uma arte de camuflar a insensibilidade com o verniz técnico da “responsabilidade fiscal”. O governador Mauro Mendes, com sua postura de CEO da austeridade, nos brinda com mais uma demonstração de sua habilidade em transformar o necessário em um favor. A Revisão Geral Anual (RGA), direito básico dos servidores públicos, virou um discurso econômico travestido de “gestão eficiente”. São 4,83% cravados, frios, sem qualquer possibilidade de negociação. Afinal, números não têm coração, não é mesmo?
Mas quem paga a conta desse suposto pragmatismo? O servidor público, aquele que mantém a engrenagem do estado funcionando. É fácil sentar no confortável trono do Palácio Paiaguás e ditar normas, jogando cifras no ventilador. Mais de R$ 800 milhões na folha? Um peso insuportável, dizem eles. Mas e o custo social de desvalorizar quem carrega o sistema nas costas? Secretários e deputados podem até entender as contas do Excel, mas parece que desaprenderam a ouvir o barulho das vozes que fazem a máquina pública acontecer.
Eu sempre ouvi que o governante é, antes de tudo, um servidor do povo. Mas, no Mato Grosso de Mauro Mendes, a lógica inverteu-se: é o povo que serve ao governante. A Assembleia Legislativa será convocada para o teatro de sempre – discursos acalorados, mas nenhum poder de decisão real. Tudo já foi calculado, decidido e anunciado. A mensagem está clara: “Eu faço o que é certo, e pronto”. O que o governador chama de “certo” é, no fundo, o exercício de uma autoridade que não admite contestação, um pragmatismo que abandona o básico da política – o diálogo.
O que me inquieta não é apenas a dureza da decisão, mas o sentimento que transborda dela. Uma falta de empatia gritante, quase um desprezo pelos servidores públicos. Como se exigir dignidade fosse um capricho, e não uma necessidade. A política deveria ser a arte de equilibrar razão e emoção, mas aqui parece que a balança quebrou. Em um estado tão rico como o nosso, o que falta não é dinheiro, mas vontade de fazer diferente. Mauro Mendes pode ter seus números, mas perdeu o mais importante: a conexão com quem ele governa. E isso, senhor governador, não há Excel que resolva.