Em depoimento à Polícia Federal nesta terça-feira (18), Andreia Mantovani, suspeita de envolvimento em suposta agressão ao filho do Ministro do STF, Alexandre de Moraes, negou que tenha feito qualquer tipo de ofensa, segundo a defesa. Porém, disse que acreditou que a família do ministro tivesse tido algum privilégio para acessar à Sala VIP.
A mulher afirmou, também, que em nenhum momento esteve no mesmo local que o ministro. O depoimento de Andreia, que é esposa do empresário Roberto Mantovani, começou por volta do meio-dia desta terça-feira (18) na sede da Polícia Federal em Piracicaba (SP), no bairro São Dimas.
De acordo com relato de Andreia à PF, a confusão teria começado na Sala VIP do Aeroporto Internacional de Roma, na Itália, onde segundo a mulher, outras pessoas se manifestavam sobre a presença do ministro.
“Ela nega, absolutamente, qualquer ofensa, e, provavelmente, as imagens do aeroporto vão evidenciar isso. O que ocorre é que no local havia de dez a 15 pessoas na entrada daquela sala VIP. E, sim, havia algumas pessoas se manifestando relativamente ao ministro. Mas, ela pessoalmente nega em absoluto”, afirmou a defesa.
Ainda segundo o advogado de defesa do casal, Ralph Tórtima, a família Mantovani não teve permissão para entrar na Sala VIP do aeroporto.
“Por isso, ela acreditou que havia privilégio para o ministro. Como estava com dois netos, teria dito que ‘político pode entrar na sala, mas gente com criança no colo não'” , afirmou.
Nesse momento, segundo a defesa, uma discussão com o filho do ministro teria começado. O advogado de defesa reforçou que não houve ofensa nem agressão ao ministro, como conta na representação.
“O depoimento da Andreia foi bastante esclarecedor. Deixou claro também que, em momento algum, ela esteve frente a frente com o ministro. Em momento algum ela fez qualquer menção ofensiva ou desonrosa ao ministro, isso não existiu em hipótese alguma”, disse o advogado do casal, Ralph Tórtima.
Andreia foi a segunda pessoa a depor. Por volta das 9h desta terça-feira (18), o empresário Roberto Mantovani foi ouvido na delegacia da Polícia Federal. E, na sequência, o filho do casal também falou na condição de testemunha do caso.
Celular apreendido e buscas em residência
Nesta terça-feira, a Ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) , determinou a apreensão dos celulares dos investigados. Durante os depoimentos, a Polícia Federal fez uma vistoria no veículo do casal Mantovani. Como os celulares dos investigados não foram encontrados, uma equipe da PF foi à casa da família.
A Polícia Federal deixou o condomínio de Luxo em Santa Bárbara d?Oeste no final da tarde desta terça-feira (18). A TV Globo apurou que apenas o celular de Andreia Mantovani foi encontrado pelos agentes e vai ser encaminhando à Brasília para perícia.
Discussão na Sala VIP
O advogado de defesa da família Mantovani relatou que a filha de Roberto havia passado junto com o genro e duas crianças de colo, uma de dois anos e outra de quatro anos, em frente à Sala VIP. Segundo Tórtima, eles tentaram acessar o espaço, mas não conseguiram porque teriam sido informados de que o ambiente reservado estava lotado.
A família, então, segundo a defesa, seguiu pelo mesmo corredor em busca de outra sala VIP.
“Quando eles estão passando, Roberto visualiza o ministro de costas entrando na sala. Questão de segundos. Aí, então, ela acreditou que o ministro tivesse tido algum privilégio e teria ingressado nessa sala, díriamos, nos termos dela, como se estivesse ‘furando a fila'”, relatou a defesa.
Ainda de acordo com o advogado da família Mantovani, na ocasião, havia pessoas hostilizavam o ministro e ressalta que quando Andreia profere as falas, o ministro Alexandre de Moraes não se encontrava na Sala VIP do aeroporto.
“Andreia apenas diz o seguinte: ‘pra político tem lugar, pra gente com criança e um idoso não tem lugar, que privilégio é esse?’ E, aí, ela externou seu inconformismo relativamente a esse fato. Quando ela se aproxima e faz essa menção, o ministro já não se encontrava. E as imagens do aeroporto provavelmente vão evidenciar isso. Estou pautando no que ela me descreveu”, relatou o advogado.
Ele contou ainda que, no depoimento, Andreia disse que havia um casal no local. “A moça que estava ali gesticula apontando o dedo para ela e, nesse instante, um rapaz se aproxima e começa a mandar beijos de forma ofensiva e começa a ofendê-la”, descreveu.
Nesse momento, então, relata a defesa, há uma discussão. Roberto Mantovani se aproxima e se apresenta como marido de Andreia. “Ele diz ao rapaz que ele está sendo desrespeitosa, que está ofendendo gravemente uma mulher. As ofensas eram muito pesadas. E o que acontece? Esse rapaz persiste nisso. Posteriormente, eles tomaram conhecimento, quando desembarcaram, que era o filho do ministro”, afirmou a defesa.
Tórtima disse que eles não sabiam quem era e não imaginavam que essa pessoa tivesse alguma vinculação com o ministro.
“Então, os ânimos se aquietam, ele afasta esse rapaz. Ele segurava uma salada de frutas com a mão e com a outra afasta esse rapaz. Garante que não caiu óculos de ninguém ao chão, e ela também diz isso. E aí eles saem e vão encontrar com o restante da família que estava adiante. Tentam acesso a outras salas VIP e não conseguem”, contou.
De acordo com relato do advogado em entrevista à imprensa, quando encontram o restante da família, os Mantovani disseram que poderiam entrar caso tivessem a reserva antecipada.
“Como nós [família Mantovani] não fizemos a reserva antecipada, não tem mais lugar’. Então, provavelmente, o ministro Alexandre tinha uma reserva para ele e para aqueles que o acompanhavam”, Eles buscam outra sala, não conseguem e o único caminho de volta era aquele.
O advogado de defesa do casal Mantovani disse que a família precisou passar novamente em frente à sala e que, naquele momento, o mesmo rapaz se dirigiu a eles.
“O rapaz começa a proferir ofensas ao senhor Roberto relativamente à esposa dele. Ela passa empurrando o carrinho de uma das crianças, abaixa a cabeça. Há um momento em que as pessoas chegam para ele, pedem para se acalmar, que não haveria necessidade daquela exaltação. Notam que ele estava realmente muito alterado. Imediatamente, descem e ficam aguardando o voo”, descreveu a defesa.
O advogado de defesa acrescenta que quando eles passam pela segunda vez e Andreia recebe ofensas, o ministro sai da sala VIP, vem até o seu filho, fotografa essas pessoas e, depois, retorna com o filho o espaço reservado.
Roberto Mantovani
Roberto prestou depoimento nesta terça-feira (18) o na sede da Polícia Federal de Piracicaba (SP) e Andreia ainda deve depor. Segundo a defesa, ele admite ter “afastado com o braço” o filho do ministro para defender a esposa. Ele relata que Andreia e Roberto foram vítimas de ofensas por parte do filho de Moraes.
Roberto alegou à PF que não sabia que a discussão era com o filho do ministro. “Somente quando desembarcaram e foram abordados pela Polícia Federal no aeroporto é que tomaram conhecimento que se tratava de um filho do ministro. Que não houve na área de embarque qualquer contato com o ministro e que realmente o contato que houve foi visual. E num segundo momento foi pessoal, mas quando o ministro sai dessa sala vip pra vir retirar o seu filho dessa área externa”, afirmou o advogado.
Veja ponto a ponto o que a defesa diz que o casal alegou à PF:
- A discussão começou após uma confusão por falta de vagas em uma sala VIP no aeroporto;
- Em seguida eles viram o ministro Alexandre de Moraes na recepção da sala e outras pessoas o ofendendo;
- Andreia teria dito que “para político tem lugar, mas para pessoas com duas crianças de colo não tem”;
- Segundo a defesa, ela achou de maneira equivocada que o ministro tivesse privilégios ao entrar na sala, mas depois soube que era necessário uma reserva prévia;
- O advogado diz que o filho do ministro estava na recepção e nesse momento teria começado a discussão;
- A defesa alega que o filho de Moraes ofendeu Andreia;
- Roberto teria o afastado com o braço e que “pode ter esbarrado” no óculos do rapaz. O intuito, segundo ele, era defender a esposa;
- O filho de Moraes teria perguntado se Roberto “queria briga”, e ele teria respondido que apenas queria defender a esposa;
- Roberto alegou que depois saiu do local com a família e, quando voltou, o filho do ministro teria tentado novamente iniciar a discussão;
- Em seguida os envolvidos se retiraram do local.
Investigação
A Polícia Federal (PF) apura a denúncia de agressão à família do ministro Alexandre de Moraes, no Aeroporto Internacional de Roma, na Itália, na sexta-feira (14). Pelo menos quatro pessoas foram intimadas a depor, sendo que três como suspeitos e um como testemunha.
Foi instaurado um inquérito policial para apurar acusações de agressão, ameaça, injúria e difamação. Segundo o Código Penal, os crimes praticados por brasileiros, embora cometidos no estrangeiro, ficam sujeitos à lei brasileira
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Alex Zanatta, que prestou depoimento à Polícia Federal em Piracicaba (SP) no domingo (16), negou as acusações.
A PF pediu ajuda à polícia em Roma no sábado (15), para ter acesso às imagens das câmeras do aeroporto, em um acordo de cooperação internacional, o que deve ocorrer até a próxima sexta-feira (21).
As imagens devem ajudar a continuidade das investigações do caso no Brasil, para esclarecer o que aconteceu. Não há prazo de quando elas devem chegar ao país.
Quem são os envolvidos
Roberto Mantovani Filho, apontado como a pessoa que agrediu o filho de Moraes, é de Santa Bárbara d’Oeste (SP) e foi candidato a prefeito pelo PL em 2004, mas perdeu as eleições. Desde 2016, ele é filiado ao PSD. Após o caso, o partido informou que vai acionar o comissão de ética contra Roberto.
Além do empresário, a Polícia Federal também identificou outros dois agressores: uma mulher, identificada como Andreia Mantovani, esposa de Roberto, e Alex Zanatta Bignotto, dono de uma imobiliária em Santa Bárbara d’Oeste.
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Fonte G1 Brasília