Lula foi recebido pelo presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, no Palácio Merdeka, onde assinaram diversos acordos e firmaram parceria estratégica nesta quinta-feira (23). Lula também afirmou que disputará o quarto mandato na eleição de 2026.
“Eu quero lhe dizer que eu vou completar 80 anos, mas pode ter certeza que eu estou com a mesma energia de quando eu tinha 30 anos de idade. E vou disputar um quarto mandato no Brasil”, declarou.
Às vésperas de possível encontro com Trump, Lula criticou protecionismo, e afirmou querer democracia comercial e multilateralismo.
“Nós queremos multilateralismo e não unilateralismo. Nós queremos democracia comercial e não protecionismo. Nós queremos crescer, gerar empregos. Emprego de qualidade, porque é para isso que nós fomos eleitos para representar o nosso povo”.
O presidente também defendeu o comércio sem dólar, afirmando o interesse de ambos os países em discutir a comercialização com moedas próprias.
“Tanto a Indonésia quanto o Brasil têm interesse em discutir a possibilidade de comercialização entre nós dois ser com as nossas moedas. Essa é uma coisa que nós precisamos mudar. O Século XXI exige que tenhamos a coragem que não tivemos no Século XX. Exige que a gente mude alguma forma de agirmos comercialmente para não ficarmos dependentes de ninguém.”
A visita marca o início da agenda asiática do presidente, que tem como foco ampliar o comércio de proteína animal brasileira, reforçar parcerias ambientais e estreitar laços diplomáticos com países do Sudeste Asiático.
Logo no início do encontro, os presidentes falaram sobre as boas expectativas, e Subianto afirmou admirar a excelência de Lula e os programas feitos ao povo brasileiro.
Lula disse que é uma grande alegria voltar à Indonésia depois de 17 anos, mas que desde 2008 os países possuem uma parceria estratégica e que espera renovar a relação com essa visita.
“É com muita alegria que estou aqui, com muita esperança e muita disposição, para trabalhar para que a relação Indonésia-Brasil seja uma relação cada vez mais produtiva, mais rentável para nossos povos”, afirmou Lula.
Lula usou sua conta no X para publicar sua chegada ao Palácio Merdeka, reforçando a relação bilateral entre os países, que tem se aprofundado em diversas áreas, como comércio agrícola, bioenergia, defesa e desenvolvimento sustentável.
Reunião, acordos e discursos
A programação oficial de Lula em Jacarta concentrou os compromissos no Palácio Merdeka, sede do governo indonésio, além de encontros com empresários locais no fim do dia.
O dia começou às 10h (horário local, 0h de quinta em Brasília), com a cerimônia oficial de chegada. Lula foi recebido com honras militares pelo presidente Prabowo Subianto, no pátio do palácio, em uma solenidade que incluiu a execução dos hinos nacionais e a apresentação das delegações dos dois países.
Em seguida, foi feita a fotografia oficial e Lula assinou o livro de visitas do Palácio Merdeka, um gesto simbólico que marca o início da visita de Estado.
Lula se reuniu com Prabowo, para discutir temas sensíveis da relação bilateral, como exportações agrícolas, investimentos em energia renovável e cooperação em defesa. O Brasil é um dos principais fornecedores de carne bovina para a Indonésia e busca ampliar o acesso ao mercado local com novas certificações sanitárias.
Logo depois, ocorreu a reunião ampliada entre as comitivas brasileira e indonésia, com a presença de ministros e assessores dos dois governos. O encontro tratou de acordos comerciais, parcerias ambientais e investimentos em infraestrutura verde.
A programação seguiu com um almoço de trabalho oferecido por Prabowo Subianto em homenagem a Lula.
A reunião entre os presidentes estava prevista para durar 30 minutos, mas durou uma hora. Informações apuradas pelo correspondente internacional Felippe Coaglio, a conversa foi muito positiva.
Lula e Subianto discutiram temas como a liberação do frango brasileiro para o programa do governo de alimentação para crianças, grávidas e lactantes; aumentar o envio de carne brasileira; e identificaram oportunidades para a Embraer suprir demandas do governo indonésio e da aviação comercial. O país já usa o Super Tucano da Embraer desde 2011 e podem fechar acordos.
Foram transmitidas as assinaturas dos atos acordados durante a reunião, que foram assinados por ministros e representantes empresariais, como da JBS e J&F. Além do ministro de Minas e Energia, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, da Agricultura e presidente do IBGE.
Lula e Prabowo Subianto falaram com a imprensa após a reunião. Os presidentes demonstraram muita satisfação nos acordos, que foram principalmente nas áreas comerciais, tecnológicas, de defesa e agricultura.
Subianto afirmou que os presidentes possuem ‘sinergia’ em diversos fatores, como no setor internacional, político, econômico e comercial. Também falou sobre a relação multilateral e cooperação entre eles, além de serem membros do BRICS e G20.
Lula afirmou que são duas nações determinadas a assumir o lugar que os corresponde em uma ordem em profunda transformação e que o mundo em desenvolvimento deve muito à Indonésia.
O presidente do Brasil também disse que “não faltam oportunidades para o comércio de produtos de maior valor agregado, em especial no setor de defesa”, enaltecendo a indústria militar brasileira e se mostrando disposto a contribuir para as necessidades estratégicas da Indonésia, em particular a FAB.
“Indonésia e Brasil compartilham o compromisso com a paz, com o desenvolvimento sustentável e com a promoção de uma ordem internacional mais justa”, afirmou o presidente do Brasil.
Lula comentou que encontrará Subianto em alguns dias, na Cúpula da ASEAN, na Malásia, e que a decisão brasileira de reforçar a cooperação com a Indonésia e com o Sudeste Asiático ‘não poderia ser mais acertada’.
Nas últimas duas décadas, o comércio entre os dois países cresceu mais de três vezes, de 2 bilhões para 6 bilhões e meio de dólares. Em 2024, a Indonésia foi o quinto destino das exportações do agronegócio brasileiro. Para Lula, esses valores ainda são tímidos diante do potencial dos mercados consumidores.
Lula também disse sobre ele e o presidente Prabowo concordarem quanto à urgência de agirem com determinação para vencer a crise climática, pois a Indonésia tem sido um parceiro fundamental nessa luta.
Os países estão entre os maiores países detentores de floresta tropicais e com maior biodiversidade do mundo, segundo Lula. Também são grandes produtores de biocombustíveis, que terão papel fundamental a desempenhar na transição para economias de baixo carbono.
“Indonésia e Brasil trabalharão juntos para uma transição energética justa, rumo a economias menos poluentes e mais sustentáveis, sem prescindir da geração de empregos de qualidade e da redução das desigualdades”, relatou Lula.
Ele disse que agradeceu ao apoio do presidente Subianto à COP30, que acontecerá em alguns dias.
Por fim, Lula confirmou que disputará quarto mandato e aceitou ao convite de Subianto para comemorarem seus aniversários – o presidente da Indonésia completou 74 anos no dia 17 e Lula fará 80 no dia 27.
Expectativa de encontro com Donald Trump
Após a passagem pela Indonésia, Lula seguirá para a Malásia, onde participará da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e poderá se reunir com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Fontes dos dois governos confirmaram à imprensa internacional que há disposição mútua para o encontro, que deve ocorrer no domingo (26), caso as agendas coincidam.
Segundo reportagem da Reuters, o governo brasileiro propôs o encontro no início do mês, e os dois líderes tiveram uma ?conversa muito boa? por telefone dias depois. Autoridades dos dois países avaliam que a cúpula asiática representa um local neutro e diplomático para a reunião, o que permitiria um diálogo mais direto sobre temas econômicos e regionais.
Se confirmado, será o primeiro encontro presencial entre Lula e Trump desde o início da crise provocada pelo tarifaço de 50% aplicado pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. O Planalto vê a conversa como uma oportunidade para ?reorganizar a relação? entre os países e buscar a suspensão das tarifas impostas em julho.
Também devem estar na pauta as medidas restritivas a autoridades brasileiras e a posição dos EUA sobre Venezuela e Colômbia ? temas em que Lula tem insistido em defender uma ?zona de paz? na América do Sul.
Fonte G1 Brasília