As duas principais notícias de terça (4) no mundo político:
1. Ciro Gomes (PDT), o candidato a presidente que teve 3% de votos e ficou em terceiro lugar no Ceará, anunciou apoio à decisão do partido de apoiar um candidato que sequer citou o nome. Isso mesmo: apoiou o apoio do partido. E ainda fez cara de nojo.
2. Rodrigo Garcia (PSDB) declarou apoio incondicional a Bolsonaro (PL) e Tarcísio (Republicanos). Ele é um cabo eleitoral tão ruim que nem o candidato apoiado quer vê-lo no palanque. Rodrigo se vende ? ou é vendido ? como administrador da poderosa máquina tucana que há mais de 30 anos controla São Paulo. Ué? Então por que deu vexame e ficou em terceiro lugar em casa? Porque, na verdade, ele é o administrador da xepa do PSDB paulista. Fim de feira total.
Já o eleitor, aquele que decide quem vai ganhar, estava interessado em outros assuntos: satanismo e maçonaria. A avalanche foi detonada quando começou a circular nas redes sociais um vídeo de Bolsonaro participando de um evento numa loja maçônica em 2017. Mais antigo que isso é o discurso preconceituoso de pastores da extrema-direita, para quem a maçonaria e satanismo são a mesma coisa.
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O termo “maçonaria” ficou durante oito horas no ranking dos 10 assuntos mais comentados no Twitter mundial. Sim, mundial. “Bolsonaro satanista” também ficou quatro horas como o assunto mais comentado no mundo todo. Segundo levantamento do analista de dados de redes sociais Pedro Barciela, as palavras “maçonaria” e “Bolsonaro” foram as mais buscadas ontem no Google, no Brasil.
O estrago foi tão grande que o pastor de extrema-direita Silas Malafaia fez um vídeo para explicar que não é bem assim. Pelo o que entendi, frequentar maçonaria, quando se trata de Bolsonaro, é como fumar e não tragar. É ruim, mas não é grave, agora pregam. Malafaia foi rebatido por outro vídeo do deputado André Janones (Avante), apoiador de Lula (PT). Ele insinuou, sem qualquer base, que Bolsonaro teria aderido a rituais satânicos por estar na maçonaria. Pelo o que entendi, com bode e sangue.
Foi o dia em que o bolsonarismo provou de seu próprio veneno e os evangélicos que o apoiam, de seu próprio preconceito. Antes, Lula fora vítima de um vídeo no qual um suposto “satanista” revela que o petista é íntimo do diabo. Foi lançando nas redes às vésperas do primeiro turno. Na terça (4), descobriu-se um outro vídeo no qual o suposto satanista fala bem de Bolsonaro. Ou seja, tudo teria sido uma fraude. É assim que está se desenrolando parte do debate político no país.
Por falar em fraude, o candidato vestido de padre no último debate não foi uma geração espontânea. Não surgiu de nada. Analistas que acompanham e monitoram as redes da extrema-direita internacional e do bolsonarismo detectaram um movimento, três meses antes do debate, que um bom tema a ser explorado seria a perseguição a religiosos na Nicarágua.
E aqui vai uma opinião: a extrema-direita se comunica melhor porque transforma histórias em novelas. Cada capítulo é uma emoção, uma revelação nova. A esquerda conta suas histórias como se fossem teses da USP. Mas isso é opinião. Vamos aos fatos.
Na novela criada pela extrema-direita, o Foro de São Paulo seria a ponte para acusar Lula de querer fechar igrejas. O roteiro é de folhetim: Lula ama Ortega, presidente da Nicarágua, que odeia cristãos. Portanto, Lula, por amor a Ortega, vai perseguir igrejas e o herói disso tudo é Bolsonaro.
Vou transcrever um texto produzido por analistas de rede sociais da extrema-direita três meses antes do debate:
1. O arco narrativo conduz à ideia de que há uma guerra cultural e que é preciso que todos se engajem e militem em prol dos valores do judaico-cristianismo.
2. Jair Bolsonaro aparece como um indivíduo com as características necessárias a barrar o avanço do projeto totalitário. A barreira contra o demônio. Esta ideia conduz ao entendimento de que “não interessa quem é Bolsonaro, o que importa é que foi ele quem Deus colocou para barrar a destruição dos valores pelo comunismo”
3. Esse é o COMANDO DO VOTO ÚTIL CRISTÃO
Só faltava plantar um candidato vestido de padre para dizer isso no debate da Globo ao Lula. E aos desinformados e de má-fé: o candidato vestido de padre só participou porque a lei eleitoral assim exige.
Portanto, há hoje no Brasil duas campanhas presidenciais. Uma delas se desenrola no mundo analógico. É aquela em que Ciro e Rodrigo Garcia declaram suas preferências políticas. É mais fácil de ler, porque já estamos acostumados a interpretar os sinais enviados pela corte.
A outra campanha se desenvolve nas redes sociais. Não se pode falar em “campanha subterrânea”, porque não está escondida de ninguém. Ao contrário, está na cara de todos, na palma de nossas mãos.
E não se trata disso ou aquilo. É lógico que apoio do governador de São Paulo e de uma liderança como Ciro contam. Mas olhar só este mundo não serve mais para antecipar tendencias e explicar resultados.
Fonte G1 Brasília