A Polícia Federal aponta uma tentativa de obstrução de Justiça por parte de funcionários da Agência Brasileiro de Inteligência no dia do cumprimento de mandados de busca e apreensão na sede da agência.
Na quinta-feira (25), agentes da PF fizeram buscas e apreensões na operação que investiga um esquema de espionagem ilegal mantido dentro da Abin durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Um dos alvos das buscas foi o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin e amigo da família Bolsonaro.
De acordo com as investigações da PF e com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pelo caso, o esquema na Abin foi montado com o objetivo de favorecer Bolsonaro e familiares, como os filhos Jair Renan e Flávio Bolsonaro, senador pelo PL.
A investigação mostra também que adversários políticos da família foram espionados ilegalmente (veja mais abaixo os principais pontos descobertos pela PF).
Tentativa de atrapalhar as investigações
Agentes da PF relatam que, no momento em que foram realizar as buscas na Abin, funcionários da agência impuseram resistência. Os funcionários questionaram sobre a extensão dos mandados e impediram os agentes de acessar todos os documentos.
O objetivo das buscas era acessar documentos produzidos pela chamada ?Abin paralela?, como está sendo chamado o caso de espionagem irregular.
Segundo o blog apurou, inclusive a atual direção da agência criou dificuldades para que a PF tivesse o acesso ao material.
O blog procurou a Abin em busca de uma resposta sobre o caso e aguarda retorno.
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Diante do impedimento e para não recorrer ao uso da força, a PF acionou o ministro Moraespara um novo despacho. Só assim, segundo investigadores ouvidos pelo blog, a PF conseguiu acessar os dados e informações que eram importantes para a investigação.
A PF está trabalhando nesse em conjunto com a Controladoria Geral da União (CGU).
O STF autorizou a CGU a ter acesso ao material da investigação e, a partir do trabalho feito pelo órgão, a PF tem conseguido também aprofundar as apurações sobre a Abin paralela.
Situação insustentável
Como o blog revelou nesta sexta-feira (26), o governo Lula avalia a demissão da cúpula da Abin. O número 2 do órgão, Alessandro Moretti, é tido como carta fora do baralho mas ala do governo — capitaneada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa — ainda tenta manter no posto Luiz Fernando Correa, chefe da Abin.
Ministros do STF fizeram chegar ao governo que também consideram a situação de Correa insustentável — assim como investigadores da PF. No entanto, Lula ainda não bateu o martelo sobre a situação do número 1 do órgão, segundo assessores próximos.
Favorecimento à família Bolsonaro
De acordo com decisão do ministro Moraes, divulgada nesta quinta, há indícios de que a Abin atuou ilegalmente em casos como:
- apuração sobre o caso das ‘rachadinhas’ no gabinete de Flavio Bolsonaro, senador e filho do ex-presidente
- investigação sobre tráfico de influência contra Jair Renan Bolsonaro
- ações de inteligência para descredibilizar as urnas eletrônicas
- monitoramento de promotora do caso Marielle Franco
- vigilância dos ex-deputados Rodrigo Maia e Joice Hasselmann
- epionagem do ministro da Educação, Camilo Santana, quando este era governador do Ceará
Jair Renan
A polícia apontou a Moraes que, sob a direção de Ramagem, a Abin trabalhou “para interferir em diversas investigações da Polícia Federal, como por exemplo, para tentar fazer prova a favor de Jair Renan Bolsonaro, filho do então presidente Jair Bolsonaro”.
Segundo a PF, “no ano de 2021, foi instaurado inquérito policial federal para apurar suposto tráfico de influência perpetrado pelo senhor Renan Bolsonaro. Entre as circunstâncias, havia a premissa do recebimento pelo investigado de veículo elétrico para beneficiar empresários do ramo de exploração minerária”.
A diligência da Abin neste caso, ainda de acordo com a PF, teve o objetivo de produzir provas de que o carro estava em posse “de um dos principais investigados ? sócio de Renan Bolsonaro”, e não do filho do então presidente.
Rachadinhas de Flávio
No caso do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), há indícios de que a Abin atuou na “preparação de relatórios” para defesa do parlamentar no caso das “rachadinhas”.
No início do mandato de Bolsonaro na Presidência, Flávio foi acusado de recolher parte dos salários dos servidores de seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), no período em que ele era deputado estadual. Posteriormente, a investigação foi anulada pelos tribunais superiores.
Em entrevista à GloboNews, Flávio Bolsonaro negou ter recebido informações da Abin e disse que alegação feita pela PF é “absurdo completo”.
Fonte G1 Brasília