Os investigadores da Polícia Federal (PF) identificaram duas ocasiões em que Mario Fernandes, general da reserva que elaborou o plano terrorista usado na tentativa de golpe, esteve no mesmo local em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Fernandes foi preso nesta terça-feira (19) durante a Operação Contragolpe por ter elaborado o plano “Punhal Verde Amarelo” no qual prévia sequestrar ou matar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice Geraldo Alckmin.
A primeira foi no dia 6 de dezembro de 2022, data em que, segundo a PF, Mário Fernandes imprime o plano “Punhal Verde Amarelo” no Palácio do Planalto. Os investigadores verificaram nos registros de impressão do Palácio que Fernandes imprimiu o documento “Word Plj.docx” às 18h09. Para a corporação, “Plj” seria a sigla para “planejamento”.
Para determinar a localização de Bolsonaro, a PF se valeu de um grupo, identificado no celular de Mauro Cid, chamado “Acompanhamento”, do qual fazia parte a equipe de ajudância de ordens. Às 17h56, o ajudante Diniz Coelho informou pelo aplicativo de mensagens: “PR no Planalto”. A sigla “PR” é usada para identificar o então presidente da República. Às 18h31, foi informado que o Bolsonaro já estava no Alvorada.
Os dados de antena de telefone celular ainda colocam no Planalto Mauro Cid e Rafael Oliveira, que coordenou as ações programas para o atentado.
“Conforme evidenciado na presente investigação, exatamente no referido período em que MARIO FERNANDES imprime do planejamento operacional, verificou-se que os aparelhos telefônicos dos investigados RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA (JOE) e MAURO CESAR CID estavam conectados a ERBS que cobrem o Palácio do Planalto. Nesse mesmo horário, o então presidente da República, JAIR BOLSONARO também estava no Palácio do Planalto”, aponta o relatório.
A segunda ocasião foi em 8 de dezembro, quando Fernandes vai ao Alvorada. Os dados de controle de acesso a residência oficial da Presidência da República mostram que o general chega às 17h e sai às 17h40. No mesmo dia, às 22h56, a PF transcreve um diálogo entre o general e Mauro Cid, no qual ele indica um aval de Bolsonaro para execução do plano golpista até 31 de dezembro, quando ele teria de deixar a Presidência.
“A primeira, durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas, porra, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades”, relatou Fernandes a Cid.
Vagabundo seria uma referência ao presidente Lula, na época presidente eleito, e que foi diplomado pelo TSE em 12 de dezembro daquele ano.
Outro indício de diálogo entre Bolsonaro e o mentor do plano classificado pela PF como terrorista é uma no a mensagem que Fernandes manda a Cid no dia 9 de dezembro. Lá ele sinaliza que teria sugerido Bolsonaro dar uma palavra aos manifestantes que permaneciam acampados em frente a quartéis militares, o que aconteceu nessa data. “Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento”, disse ao ex-ajudante de ordens.
A PF identificou ainda que Fernandes teria impresso o plano golpista em 9 de novembro no Palácio do Planalto às 17h09, na impressora localizada da Secretaria Geral da Presidência. No mesmo dia, às 17h48, ele registra entrada no Alvorada, permanecendo até 18h56. Não fica claro pelo relatório, no entanto, se Bolsonaro estava presente.
Fernandes era ‘ponto focal’ do governo Bolsonaro com golpistas, diz PF
Durante o governo Bolsonaro, Fernandes ocupou o cargo de chefe substituto na secretaria-geral da Presidência da República, o que lhe dava, segundo a PF “estreita proximidade com o então presidente Jair Bolsonaro”.
De acordo com as investigações, Fernandes tinha também relação integrantes dos movimentos golpistas, como os caminhoneiros que estavam acampados em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília.
“O contexto das mensagens evidencia que Mário Fernandes era o ponto focal do governo de Jair Bolsonaro com os manifestantes golpistas”, diz a PF.
A PF cita que, após o encontro com Bolsonaro, Fernandes pediu a Mauro Cid para que o então ajudante-de-ordens pedisse ao presidente para atuar para evitar a apreensão de caminhões em frente ao QG do Exército por ordem da Justiça.
“Então isso seria importante, se o presidente pudesse dar um input ali para o Ministério da Justiça para segurar a PF ou para a Defesa alertar o CMP [Comando Militar do Planalto], e, porra, não deixa”, disse Fernandes.
Em resposta, Cid se comprometeu a falar com Bolsonaro sobre o assunto.
Fonte G1 Brasília