A Polícia Federal (PF) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que abra um novo inquérito para apurar a existência de uma “grande estrutura na Prefeitura de Duque de Caxias (RJ) para a prática de crimes de inserção de dados falsos de vacinação” nos sistemas do Ministério da Saúde.
Os indícios surgiram durante investigação de um suposto esquema que teria beneficiado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados, que foram indiciados pela PF. A defesa do ex-presidente nega que ele tenha mandado “confeccionar qualquer atestado contendo informações falsas” (veja a nota abaixo).
A PF, no entanto, afirma que as provas encontradas “transcendem a associação criminosa investigada” no caso de Bolsonaro, e que os envolvidos teriam atuado “visando beneficiar um número indeterminado de pessoas, especialmente ligados ao grupo político e familiar que comanda o município”.
De acordo com a investigação, o grupo investigado utilizou a estrutura da Secretaria de Saúde do município para viabilizar a inserção de dados falsos no sistema federal.
Para isso, contaram com a aderência consciente e voluntária do então secretário municipal João Carlos de Sousa Brecha e de servidoras da prefeitura.
Os indícios foram encontrados pela PF em dados armazenados no celular apreendido da chefe da central de vacinação do município, Claudia Helena Acosta.
O material “evidenciou novos elementos de prova que revelaram a constituição de uma grande estrutura na prefeitura para a prática de crimes […], diverso do grupo criminosos investigado”, de acordo com o pedido enviado ao STF.
Dados do celular
No dispositivo apreendido, a PF encontrou várias trocas de mensagens em um aplicativo entre o secretário João Carlos Brecha, a médica Lilian Cristina Silva Freitas, a secretária Célia Serrano da Silva e a servidora Claudia Helena Acosta.
Nesse contexto, as inserções de dados de vacinação por Claudia Helena, a mando de Célia Serrano ?secretária de Saúde, teriam indícios de fraude.
Outros diálogos, diz a PF, tratam da inserção de dados de vacinação, em nome dos infantes J.P.R.F e T.R.F., sobrinhos do deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ).
Em uma das falas, Claudia Helena questiona Celia Serrano sobre o lote da vacina a ser inserido no sistema, e a secretária responde: ?Qualquer lote tá bom?.
Investigadores disseram ainda que outro indício de fraude envolve Carolina Fialho, Jéssica Ribeiro e Marcos Vinicius Ribeiro, que supostamente, teriam sido vacinados duas vezes no mesmo dia, 30 de dezembro de 2021, em estabelecimentos de saúde diferentes.
Operação Venire
Em 4 de julho, a PF cumpriu a 2ª fase da Operação Venire, sobre a suposta fraude nos cartões de vacinação da família de Bolsonaro, no final de 2022.
O secretário estadual de Transportes e ex-prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), foi alvo da operação. Célia Serrano, secretária de Saúde de Caxias, também está na lista de investigados.
Na primeira fase da operação, a PF investigou indícios de fraude nos cartões de vacinação do ex-presidente. Segundo a investigação, o sistema do Ministério da Saúde indicava que o Bolsonaro havia recebido duas doses contra a Covid, em Duque de Caxias. Ele sempre negou ter tomado as vacinas.
Essa suposta falsificação teria o objetivo de garantir a entrada de Bolsonaro, familiares e auxiliares próximos nos Estados Unidos, burlando a regra de vacinação obrigatória.
O então presidente deixou o Brasil rumo aos EUA no penúltimo dia de mandato, em dezembro de 2022, onde permaneceu por cerca de seis meses, antes de retornar ao Brasil.
Questionado sobre a abertura de um novo inquérito, o advogado de Bolsonaro reproduziu, em nota, o argumento da defesa desde o início da investigação.
“O presidente da República jamais mandou confeccionar qualquer atestado contendo informações falsas. Por que o faria se não precisaria utilizá-lo e, mais do que isso, sendo de conhecimento mundial que não se vacinou? Mais um elemento a ratificar que sua conclusão nesta investigação nasce politicamente enviesada”.
Fonte G1 Brasília