O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem buscado recalibrar suas falas sobre a crise política e eleitoral na Venezuela.
O reposicionamento faz parte de uma estratégia do Palácio do Planalto para distanciar o petista do regime autoritário de Nicolás Maduro, uma vez que, recentemente, declarações de Lula simpáticas ao ditador causaram desgastes na popularidade do presidente brasileiro.
Pesquisas de opinião apontaram que a avaliação de Lula foi impactada negativamente após ele afirmar que existia democracia na Venezuela e trocar afagos com Maduro durante visita do ditador a Brasília no ano passado.
Agora, Lula tenta mudar o tom em relação ao regime de Maduro. Nesta quinta-feira (15), o petista disse ainda não reconhecer o resultado da eleição presidencial venezuelana ? contestada por uma série de países e organismos internacionais.
Nesta sexta, durante entrevista à Rádio Gaúcha, o presidente brasileiro foi questionado sobre a existência de uma ditadura na Venezuela. Desta vez, o petista afirmou que há, no país vizinho, um regime “desagradável” com “viés autoritário”, mas refutou o termo ditadura (veja no vídeo abaixo).
Ciente do prejuízo que esse tema pode causar na imagem de Lula, o entorno do presidente realizou reuniões nesta semana para afinar o discurso do presidente, tendo em vista que ele seria abordado sobre o assunto durante entrevistas.
O posicionamento que Lula externou à imprensa nesta quinta e nesta sexta foi definido em uma reunião na última quarta-feira (14).
Também nesse encontro, ficou combinado que o ex-chanceler Celso Amorim, assessor presidencial para assuntos internacionais, faria afirmações contundentes sobre Venezuela na Comissão de Relações Exteriores do Senado nesta quinta.
Insistência em atas mostra governo perdido
Embora tente uma recalibragem para não prejudicar a avaliação de Lula, o governo se mostra perdido ao insistir na divulgação das atas eleitorais venezuelanas.
Ministros do próprio governo reconhecem que essa é uma questão já ultrapassada, que podia ser explorada somente nos primeiros dias após a eleição contestada e não na terceira semana após o pleito. Ou seja, ministros admitem que esse é um discurso que não cabe mais.
Diferentes movimentos do entorno de Lula, sugerindo soluções como a realização de novas eleições ? sem o respaldo do ditador Maduro, da líder oposicionista María Corina Machado e de outros países ? indica que o governo está perdido, entrou em uma sinuca de bico e não sabe como sair.
O Brasil foi o avalista do acordo de Barbados sobre eleição democrática na Venezuela, portanto, não haveria país melhor para cobrar lisura e denunciar a falta de transparência no pleito.
Além disso, até o momento, Lula não condenou com veemência a repressão de Maduro contra opositores, que já resultou em perseguições, prisões e mortes. Esse silêncio do petista tem causado desconforto inclusive em integrantes do governo.
Fonte G1 Brasília