Uma pesquisa iniciada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para avaliar a opinião dos médicos brasileiros sobre a obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19 em crianças de 6 meses a 4 anos e 11 meses tem gerado uma série de repercussões negativas na comunidade científica.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), maior sociedade científica da América Latina, divulgou nesta segunda-feira (15) uma nota de repúdio ao que chama de ?negacionismo favorecido pelo CFM?.
?Lembramos que ciência não é matéria de opinião. Protocolos de prevenção e de tratamento de doenças são desenvolvidos a partir de pesquisas, do laboratório aos seres humanos?, escreve a entidade.
?Não se decide se a Terra é redonda ou plana, se Marte é um planeta ou um holograma, por meio de enquetes de opinião, como essa ora realizada pelo CFM. Questões científicas são tratadas por cientistas, mediante procedimentos rigorosos e mundialmente consagrados?, completa o texto.
De acordo com o CFM, a enquete, conduzida através do seu site, busca “compreender o posicionamento da classe médica” sobre a imunização desse público.
No questionário, o conselho pergunta aos médicos se a aplicação do imunizante deveria ser obrigatória e se o profissional já atendeu crianças com diagnóstico ou complicações decorrentes da doença.
O texto ainda questiona se os pais e responsáveis “têm o direito de não optar pela imunização das crianças”.
Mais questionamentos
Em carta aberta conjunta, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) questionam a enquete feita pelo CFM. ? Esta pesquisa está aberta a todos os médicos, com quatro perguntas sem opção de argumentos ou comentários, desprovida de metodologia adequada para os objetivos propostos?, diz a nota.
?Existem claras evidências que apontam os benefícios da vacinação pediátrica na prevenção das formas agudas da doença, reduzindo o risco de hospitalizações, bem como suas complicações em curto e longo prazo na população pediátrica. Estas evidências apontam a necessidade de que tenhamos vacinas atualizadas e disponíveis para o grupo de crianças menores de 5 anos, onde ainda temos uma proporção significativa de crianças nunca infectadas e sem doses de vacina?, argumentam as duas entidades.
Sobre a autonomia dos médicos, a SBI e a SBP dizem que ?todas as medidas de saúde pública devem ser seguidas pelos médicos ligados ao CRM (Conselho Regional de Medicina) e ao CFM (Conselho Federal de Medicina)?.
Também por meio de nota, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) expressou preocupação em relação à iniciativa do CFM. Segundo a entidade, equiparar “crenças pessoais à ciência, como proposto pela pesquisa do CFM, pode gerar insegurança” na comunidade médica e afastar a população das salas de vacinação.
Histórico de polêmicas
Durante a pandemia, a postura do CFM em não condenar a prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina, remédios sem eficácia contra Covid-19, gerou repercussão na comunidade médica.
Em 2021, a Defensoria Pública da União chegou a entrar com uma ação civil contra a entidade por danos morais coletivos pela indicação do uso dos medicamentos.
“data”: {“app”:{“image”:”https://s2-g1.glbimg.com/S4e1vocM21UnGsky5vMcPBpqU9I=/540×304/middle/smart/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/t/P/tIICphRqG3QJ6Ufr6bNw/remedio.jpg”},”title”:”Defensoria Pu00fablica processa CFM e pede indenizau00e7u00e3o de R$ 60 milhu00f5es pela indicau00e7u00e3o de medicamentos ineficazes contra Covid”,”type”:”editorial”,”url”:”https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/10/01/defensoria-publica-processa-cfm-e-pede-indenizacao-de-r-60-milhoes-pela-indicacao-de-medicamentos-ineficazes-contra-covid.ghtml”,”web”:{“desktop”:”https://s2-g1.glbimg.com/Sd_DZohRBbSbZ2ysnXBC8Xz2qrY=/320×200/middle/smart/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/t/P/tIICphRqG3QJ6Ufr6bNw/remedio.jpg”,”image”:”https://s2-g1.glbimg.com/S4e1vocM21UnGsky5vMcPBpqU9I=/540×304/middle/smart/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/t/P/tIICphRqG3QJ6Ufr6bNw/remedio.jpg”,”mobileSizes”:{“L”:”https://s2-g1.glbimg.com/67y6DyRoXUVjeF3Rp2wZXgkVIV0=/414×468/middle/smart/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/t/P/tIICphRqG3QJ6Ufr6bNw/remedio.jpg”,”LL”:”https://s2-g1.glbimg.com/RgvDL7cOMjSZMtwhpplCLgbe9XQ=/480×543/middle/smart/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/t/P/tIICphRqG3QJ6Ufr6bNw/remedio.jpg”,”M”:”https://s2-g1.glbimg.com/jR96zTNZalYb7d1R5fc4QpEwPOU=/375×424/middle/smart/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/t/P/tIICphRqG3QJ6Ufr6bNw/remedio.jpg”,”S”:”https://s2-g1.glbimg.com/hmmvfHL6q3mDjsKQVTRLR7qAnAg=/320×362/middle/smart/https://i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/t/P/tIICphRqG3QJ6Ufr6bNw/remedio.jpg”}}}
}
O que diz o CFM
Em nota enviada ao g1 (veja a íntegra ao final da matéria), o CFM disse que não questiona a eficácia da vacina para crianças contra a Covid-19, apenas busca compreender a visão dos médicos sobre a obrigatoriedade.
Ainda segundo o conselho, a pesquisa visa ampliar o debate e ouvir a maioria da classe médica, respeitando outras entidades.
“O CFM respeita o direito de outras entidades médicas se posicionarem sobre a realização da pesquisa, entendendo que essas manifestações enriquecem o debate ético e científico, desde que não atendam a interesses pessoais, políticos, ideológicos ou financeiros”, diz o texto.
Em 2023, a Covid-19 resultou em 5.310 casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e 135 óbitos entre crianças menores de 5 anos no Brasil, conforme informações do último boletim epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde, abrangendo dados até novembro.
NOTA DO CFM NA ÍNTEGRA:
CFM esclarece pontos do levantamento sobre a percepção do médico acerca da obrigatoriedade da vacina de covid-19 em crianças
Com respeito à realização de pesquisa junto aos mais de 560 mil médicos brasileiros para conhecer a percepção dos profissionais acerca da obrigatoriedade de aplicação da vacina contra covid-19 em crianças de 6 meses a 4 anos e 11 meses, o Conselho Federal de Medicina (CFM) esclarece os seguintes pontos:
1)Em nenhum momento, o CFM contesta a eficácia ou a decisão do Ministério da Saúde de disponibilizar a vacina contra a covid-19 para a população infantil;
2) A pesquisa visa unicamente conhecer a percepção do médico brasileiro sobre a obrigação imposta aos pais para que as crianças de 6 meses a 4 anos e 11 meses sejam vacinadas, independentemente de prescrição médica da vacina contra COVID-19;
3) A decisão decorre de inúmeros pleitos encaminhados à autarquia buscando conhecer o posicionamento do CFM sobre esse tema, pois a bula da vacina disponibilizada pelo fabricante condiciona sua venda à prescrição médica;
4) Assim, o CFM decidiu ampliar o debate, dando direito a cada médico brasileiro de se manifestar, conhecendo a visão da maioria da classe;
5) Os médicos têm opiniões com base em conhecimento técnico-científico, são profissionais, pesquisadores e estudiosos em diversas áreas da ciência médica e por isso mesmo, são capacitados a se manifestarem sobre a obrigatoriedade da vacina contra COVID-19 em crianças de 6 meses a 4 anos e 11 meses;
6) Abordagens semelhantes foram usadas pelo CFM em outros temas, como telemedicina e publicidade médica, entre outros, oferecendo subsídios à autarquia e aos tomadores de decisão;
7) Além desse instrumento, o CFM informa que solicitou posicionamentos técnicos às suas Câmaras Técnicas de Pediatria, de Infectologia e de Bioética sobre a obrigatoriedade;
8) O CFM respeita o direito de outras entidades médicas se posicionarem sobre a realização da pesquisa, entendendo que essas manifestações enriquecem o debate ético e científico, desde que não atendam a interesses pessoais, políticos, ideológicos ou financeiros.
Finalmente, o CFM ressalta à população e aos médicos que empenha total apoio às ações empreendidas para ampliar a cobertura de vacinas que ajudam na prevenção e combate a doenças, como poliomielite, sarampo, meningite, rubéola e tuberculose, disponibilizadas dentro do Programa Nacional de Imunizações (PNI), considerado o maior do mundo em sua modalidade.
Fonte G1 Brasília