Os supostos registros falsos de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro e sua filha foram feitos no mesmo dia, pela mesma pessoa, e com minutos de diferença – mas meses após as datas em que teriam sido aplicadas. Segundo os investigadores, não há registro de que nenhum dos dois estivesse no local em que a vacina foi supostamente aplicada nos dias registrados.
Os registros de dois ajudantes próximos de Bolsonaro também foram feitos pela mesma pessoa e com minutos de diferença, mas no dia seguinte às inserções dos dados de Bolsonaro e da filha. Todos os registros das quatro pessoas foram feitos no mesmo lugar e pela mesma pessoa: o então secretário municipal de Saúde de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha.
Os dados são da representação da Polícia Federal na operação deflagrada pela Polícia Federal nesta quarta-feira (3), para apurar um suposto esquema de fraude em dados de vacinação envolvendo ajudantes do ex-presidente.
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18h59 e 19h
Segundo os dados identificados pela Polícia Federal no sistema SI-PNI do Ministério da Saúde, foram feitos dois registros de vacinação de Bolsonaro no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
O primeiro indicava a vacinação em 13/08/22 e o segundo, em 14/10/22. Mas ambos os registros foram feitos pelo mesmo operador do sistema, João Carlos Brecha, apenas meses depois, em 21/12/22. Eles também foram feitos em sequência: um às 18h59 e outro às 19h. Já em 27/12, seis dias depois, uma outra operadora do sistema excluiu ambos os registros, também em sequência.
A PF destaca que, segundo dados de uma investigação preliminar realizada pela Controladoria-Geral da União, “o ex-Presidente Jair Bolsonaro não esteve no município de Duque de Caxias/RJ no dia 13/08/2022, data em que teria tomado a 1ª dose da vacina da fabricante PFIZER, permanecendo na cidade do Rio de Janeiro até seu retorno para Brasília/DF às 21h25min.”
Ainda segundo a PF, Bolsonaro também não teria como ter recebido a segunda dose em 14/10/22.
“Apesar de ter comparecido a uma caminhada na cidade de Duque de Caxias/RJ, às 11h00min da manhã, não há nenhum indicativo de que o ex-Presidente Jair Bolsonaro tivesse comparecido à unidade de saúde do referido município para se vacinar, fato que se tivesse ocorrido seria amplamente noticiado, considerando sua notoriedade”, diz o documento.
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Filha e ajudantes
A PF identificou que o mesmo operador do sistema também inseriu dois registros de vacinação da filha de Bolsonaro no mesmo local – os registros começaram a ser feitos praticamente na mesma hora dos registros do então presidente, com a primeira inserção às 19h05 — portanto minutos após os registros do ex-presidente — e a segunda, às 23h11 de 21/12.
Os registros dela também foram excluídos seis dias depois, em condições idênticas às dos registros do pai e pela mesma pessoa.
Analisando os registros de vacinação do local, a PF identificou que dois assessores próximos do ex-presidente, Max Guilherme e Sérgio Rocha Cordeiro, também tiveram registros feitos nas mesmas condições – estes, em datas de vacinação exatamente iguais às atribuídas a Bolsonaro.
No caso deles, no entanto, a inserção no sistema ocorreu em 22/12, dia seguinte às inserções de Bolsonaro e Laura, e não consta retirada dos registros.
Fonte G1 Brasília