A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou nesta terça-feira (29) que o principal obstáculo para o governo brasileiro avançar no diálogo com Donald Trump sobre o tarifaço que entra em vigor em 1º de agosto não é o presidente Lula e, sim, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Tebet, o governo americano estaria reagindo a pressões ligadas ao Judiciário brasileiro.
“Acho que a questão é muito mais Alexandre de Moraes do que presidente Lula. Está muito claro isso. O presidente Lula não tem problema de pegar o telefone e ligar, mas não foi nem uma ou duas vezes que ouvi o presidente dizer isso”, afirmou Tebet em entrevista ao Estúdio i, da GloboNews.
Segundo ela, contudo, é necessário um ponto de partida. “Preciso de algo para começar e que essa reunião não fique só no telefonema, e que depois, não fique pior do que estava.”
Tebet, afirmou que o governo brasileiro sequer conseguiu sentar à mesa para negociar com Trump sobre o tarifaço previsto para entrar em 1º de agosto e que já estuda planos para conter os impactos da medida.
“O governo Trump está sendo induzido ao erro por mentiras da família Bolsonaro”, disse Simone Tebet, em entrevista ao Estúdio i, da GloboNews, nesta terça-feira (29). “O governo do presidente Lula não saiu da mesa de negociação, porque não conseguiu sequer sentar-se à mesa. Não temos com quem dialogar”, disse a ministra .
“Nós temos a hoje a constatação de que nós vamos ter que esperar o 1º de agosto, com tudo pronto obviamente, todas as medidas estão na mesa do presidente, a depender do seguinte: vai haver prorrogação como houve com a China? Vão diminuir a alíquota tarifária de alguns produtos que eles não produzem lá e que impactam a inflação na mesa do americano?”, afirmou Tebet.
A ministra afirmou ainda que o Brasil segue fazendo esforços diplomáticos e econômicos, inclusive com o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atuando junto a interlocutores internacionais. Mas, segundo Tebet, há um entendimento de que Trump ainda não quer conversar com o Brasil.
“Hoje, os intermediários sinalizam que o presidente Trump não quer conversar com o Brasil ? ainda. E eu até entendo a estratégia. O Brasil exporta 12% de tudo que vende aos EUA, mas, para os americanos, isso representa só 2% da balança deles. Então, ele negocia primeiro com Europa, China, Japão, e só depois com o Brasil.”
Tebet disse que, se fosse ela a conduzir a retomada do diálogo, convidaria o ex-presidente dos EUA a visitar o Brasil novamente. A ministra afirmou que é preciso esclarecer a verdade diante da narrativa propagada por aliados de Bolsonaro.
“Eu convidaria o presidente Trump para vir novamente ao Brasil. Para ver que aqui a imprensa é livre, que os poderes são independentes, que o Congresso Nacional está mais fortalecido que o Executivo.”
Tebet afirmou ainda que o governo brasileiro não tem o que esconder ? e que cabe ao país reforçar, com transparência, que houve uma tentativa de golpe e que os responsáveis serão punidos.
“Aqui houve tentativa de golpe mesmo. E os criminosos têm que estar ? e vão estar ? na cadeia.”
A ministra também defendeu que qualquer reaproximação com os EUA precisa deixar claro que não haverá discussão sobre julgamento de Bolsonaro ou interferência no Judiciário.
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Governo espera por prorrogação ou redução de tarifas após 1º de agosto
Simone Tebet afirmou que o governo já tem medidas prontas para reagir ao tarifaço, mas que a execução dessas ações dependerá do que os Estados Unidos decidirem nos próximos dias. Entre as possibilidades, estão uma eventual prorrogação do prazo ? como ocorreu com a China ? ou a redução das alíquotas para produtos que os americanos não produzem internamente.
De acordo com a ministra, não haverá retaliação. “Antes do dia 1º a única coisa que temos que fazer, além da diplomacia, é nos prepararmos para uma reação, não uma retaliação, é importante dizer isso”.
Pacote será mais técnico do que fiscal, diz Tebet
A ministra afirmou que o plano de reação ao tarifaço está pronto, mas evitou dar detalhes sobre as medidas, que ainda estão sendo discutidas internamente. Segundo Tebet, o que pode ser adiantado é que o conteúdo do pacote será bem diferente do que se imagina do ponto de vista orçamentário.
“Está tudo na mesa. Mas eu posso tranquilizar: é muito menos fiscal do que se espera.”
Isolamento da família Bolsonaro
A ministra afirmou que a postura da família Bolsonaro diante da crise provocada pelo tarifaço expôs ainda mais o isolamento político do ex-presidente e seus aliados. Segundo ela, há um desgaste evidente, inclusive entre nomes da direita que antes orbitavam o bolsonarismo.
“A família Bolsonaro está se isolando. E aqueles que, de alguma forma, flertarem ou tentarem defender essa família vão pagar um preço já nas próximas pesquisas”, disse a ministra.
Para ela, Lula sai fortalecido diante da crise e que a sociedade está percebendo com mais clareza quem defende os interesses do país. “Está muito claro para a sociedade brasileira que a família não é a família brasileira. É a família Bolsonaro.”
Fonte G1 Brasília