Em três meses de julgamentos, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) absolveu dois acusados e condenou 29 réus, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro, por participação na chamada trama golpista.
Os últimos cinco réus foram condenados nesta terça-feira (16) e integravam o chamado núcleo 2 ? responsável pelo gerenciamento das principais ações golpistas para manter o ex-presidente no poder mesmo após a derrota nas eleições de 2022..
Bolsonaro foi considerado o líder da organização criminosa e recebeu a maior punição, 27 anos e três meses de prisão.
Foi a primeira vez que um ex-presidente foi condenado e preso por atentar contra a democracia. Assim como, também pela primeira vez na história, militares de alta patente foram condenados e presos por golpe de Estado.
A Primeira Turma entendeu que ficou comprovado, a partir da atuação de uma organização criminosa, que Bolsonaro:
- agiu para minar a confiança da sociedade nas urnas eletrônicas;
- pressionou militares para aderirem à ruptura institucional;
- usou a máquina pública contra adversários, num esquema que envolveu espionagem ilegal e disseminou dados falsos, além de ter atacado o judiciário;
- traçou planos golpistas que previam até a prisão e morte de autoridades.
Esses atos, no entendimento do Supremo, culminaram nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes em Brasília.
“[Foi realizado] um trabalho detalhado para que não houvesse nenhuma dúvida, dentro do que estamos fazendo até hoje dentro do devido processo legal, nenhuma dúvida sobre a necessidade de realmente responsabilizar os golpistas, uma vez que jamais na história do Brasil nenhum golpista havia sido responsabilizado”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
A maioria dos réus foi condenada por cinco crimes:
- tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- golpe de Estado;
- participação em organização criminosa armada;
- dano qualificado; e
- deterioração de patrimônio tombado
As penas vão de 1 ano e 11 meses a 27 anos e três meses de prisão.
- Foram absolvidos: o general da reserva Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, e o delegado da Polícia Federal de Souza Oliveira.
?11 de setembro
- Condenados do núcleo crucial
O núcleo crucial foi considerado o responsável pelo planejamento e articulação dos atos golpistas. Além de Bolsonaro, foram condenados:
- Alexandre Ramagem (deputado e ex-diretor da Abin)
- Almir Garnier (ex-comandante da Marinha)
- Anderson Torres (ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública)
- Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional)
- Mauro Cid (ex-ajudante de ordens do presidente)
- Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa)
- Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil)
Em 25 de novembro, o Supremo considerou que se esgotaram as chances de recursos contra a condenação e determinou o início da execução das penas, com a prisão dos condenados.
Apenas o deputado Alexandre Ramagem não foi preso porque fugiu para os Estados Unidos. Moraes determinou o início do processo de extradição do deputado. Segundo aliados, ele deve buscar asilo nos Estados Unidos.
?21 de outubro
- Condenados do núcleo 4
O núcleo da desinformação desempenhou ações essenciais para articular a tentativa de golpe, elaborando e disseminando informações falsas, além de atacarem autoridades para tentar provocar uma ruptura institucional
Foram condenados:
- Ailton Moraes Barros (ex-major do Exército)
- Ângelo Denicoli (major da reserva do Exército)
- Giancarlo Rodrigues (subtenente do Exército)
- Guilherme Almeida (tenente-coronel do Exército)
- Reginaldo Abreu (coronel do Exército)
- Marcelo Bormevet (agente da Polícia Federal)
- Carlos Cesar Moretzsohn Rocha (presidente do Instituto Voto Legal)
?18 de novembro
- Condenados do núcleo 3
Esse grupo atuou para a ruptura institucional, com planos e ações para monitorar e até assassinar autoridades como o presidente Lula e o vice, Geraldo Alckmin. Entre eles, militares das forças especiais, chamados de kids pretos:
- Bernardo Romão Correa Netto (coronel do Exército)
- Fabrício Moreira de Bastos (coronel do Exército)
- Márcio Nunes de Resende Jr. (coronel do Exército) – pode negociar acordo com a PGR, caso confesse o crime
- Hélio Ferreira Lima (tenente-coronel do Exército)
- Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel do Exército)
- Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel do Exército)
- Ronald Ferreira de Araújo Jr. (tenente-coronel do Exército) – pode negociar acordo com a PGR, caso confesse o crime
- Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (tenente-coronel do Exército)
- Wladimir Matos Soares (agente da Polícia Federal)
?16 de dezembro
Os condenados teriam atuado no gerenciamento das principais ações golpistas da organização
- Filipe Garcia Martins Pereira, ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência;
- Marcelo Costa Câmara, coronel da reserva e ex-assessor de Jair Bolsonaro;
- Marília Ferreira de Alencar, ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça ? foi condenada em 2 dos cinco crimes imputados
- Mário Fernandes, general da reserva do Exército;
- Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal.
Fonte G1 Brasília