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Trump pela culatra: tarifaço dos EUA já ajudou a turbinar popularidade de líderes de países ‘rivais’; veja lista

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem recorrido ao aumento da tarifa contra países estrangeiros como estratégia de pressão. Em muitos casos, as medidas resultam em um efeito colateral: o aumento da popularidade dos governos que são alvo das taxas.

?? Contexto: Trump anunciou tarifas de 50% contra produtos brasileiros em uma carta publicada na quarta-feira (9). Segundo ele, as taxas entrarão em vigor no dia 1º de agosto. O presidente americano usa como argumento uma premissa equivocada, de que os EUA têm déficit na balança comercial em relação ao Brasil ? na verdade, os EUA têm superávits seguidos com o Brasil desde 2009.

  • Houve um fato inédito na carta ao Brasil: diferentemente das tarifas aplicadas a outros países, em que o foco era a economia, Trump usou a medida citando motivos políticos e saiu em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro.
  • Segundo Trump, Bolsonaro é alvo de uma “caça às bruxas” pela Justiça do Brasil. O ex-presidente responde a uma ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento na tentativa de golpe de Estado em 2022.
  • A imprensa internacional interpretou o gesto de Trump como um ataque motivado por questões pessoais, já que Bolsonaro é seu aliado.

? Ameaça x Realidade: Desde o início do mandato, Trump tem usado tarifas como instrumento de pressão, inclusive contra aliados. Ele diz que os EUA foram prejudicados por muito tempo e que é preciso corrigir esse desequilíbrio. Por outro lado, muitas das taxas anunciadas não entraram em vigor.

  • Em abril, Trump anunciou tarifas recíprocas contra dezenas de países, mas depois adiou a cobrança de grande parte delas.
  • Canadá e México também foram ameaçados com tarifas de 25% sobre todos os produtos exportados aos EUA, mas a medida acabou restrita a alguns itens.
  • No caso dos produtos europeus, o governo anunciou tarifas de 25%, mas também postergou a cobrança para negociações.
  • Nesta quarta-feira (10), Trump anunciou que enviaria cartas ao Canadá e União Europeia com o aviso de novas tarifas.
  • O vaivém nos anúncios levou o mercado a criar a expressão “Trump Always Chickens Out”, ou “Trump Sempre Amarela”, em tradução livre.

? Popularidade: Pesquisas de opinião indicam que as ameaças de Trump estão influenciaram diretamente a aprovação dele. Os americanos temem que as tarifas aumentem o custo de vida nos EUA. Enquanto isso, a aprovação de alguns governos que foram alvos das medidas subiu.

  • No Canadá, o Partido Liberal se manteve no poder e venceu as eleições legislativas em abril após uma virada atribuída à rejeição da população às tarifas de Trump.
  • No México, a aprovação da presidente Claudia Sheinbaum chegou a 80% no auge da crise entre os dois países.
  • Na Europa, as avaliações do presidente francês, Emmanuel Macron, e do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, também melhoraram após as ameaças.
  • Em toda a União Europeia, uma pesquisa indicou que 52% dos europeus confiavam no bloco ? o melhor resultado em 18 anos.

? Diante das ameaças de Trump, alguns países observaram movimentos de unidade e patriotismo. Para Ian Bremmer, CEO da consultoria Eurasia, as taxas de Trump ao Brasil podem beneficiar Lula politicamente, assim como aconteceu com governos de outros países.

“Acredito que o tiro vai sair pela culatra. Acho que vai ajudar o Lula e vai prejudicar Bolsonaro”, analisa. “Acho que isso é um grande erro em praticamente todos os níveis.”

Nesta reportagem você vai ver:

1. Canadá e México

Canadá e México viram ameaças de tarifas indo e voltando. No fim de janeiro, Trump anunciou que iria taxar em 25% produtos canadenses e mexicanos importados. O objetivo seria pressionar os vizinhos a combater a imigração ilegal e o tráfico de drogas para os EUA.

  • Em fevereiro, Trump suspendeu as tarifas por um mês após um acordo com Sheinbaum e Trudeau. No início de março, voltou a confirmar as taxas.
  • Ainda em março, o presidente voltou atrás e adiou a cobrança sobre produtos que se enquadram no “USMCA”, que é um acordo comercial entre EUA, México e Canadá.
  • Atualmente estão em vigor tarifas de 10% sobre produtos de energia do Canadá, além de taxas de 25% para produtos mexicanos e canadenses que estão foram do USMCA.
  • Na quarta-feira (10), Trump anunciou novas tarifas de 35% contra o Canadá a partir de 1º de agosto.

Efeitos das tarifas foram sentidos nos dois países. Veja a seguir:

?? Canadá

  • Pesquisas passaram a indicar favoritismo do Partido Liberal nas eleições, que antes aparecia atrás dos conservadores da oposição.
  • Em abril, com uma campanha impulsionada pela crítica às medidas de Trump, os liberais venceram as eleições, continuaram no poder e ampliaram o número de cadeiras na Câmara.
  • Enquanto isso, no comércio, lojas canadenses começaram a boicotar produtos dos EUA e iniciaram uma campanha de valorização de itens do próprio país.
  • Cafeterias também mudaram o nome do café “americano” para “canadiano”.

?? México

  • A aprovação da presidente Claudia Sheinbaum subiu de 75%, no início de janeiro, para 80% em meados de fevereiro, segundo levantamento da Buendía & Marquéz.
  • No início de fevereiro, ela reuniu milhares de pessoas na Cidade do México em um “festival” de orgulho nacional.
  • Em discurso, Sheinbaum defendeu a soberania do país e disse que o povo mexicano não poderia ser afetado por decisões de “governos estrangeiros ou hegemonias”.
  • Pesquisas recentes apontam que a aprovação da presidente perdeu fôlego, mas continua acima de 70%.

2. Reino Unido

Trump anunciou tarifas de 10% para produtos do Reino Unido. O país também foi afetado por taxas de 50% nas exportações de aço e alumínio para os EUA, além de 25% sobre automóveis e peças automotivas.

? Antes mesmo de as tarifas entrarem em vigor, Trump recebeu o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, na Casa Branca. As taxas foram discutidas durante o encontro.

  • Em março, Starmer afirmou que “todas as opções estavam na mesa”, sugerindo uma possível retaliação. Por outro lado, indicou que buscaria uma solução negociada.
  • Durante a crise, a aprovação do premiê cresceu 10 pontos percentuais, segundo o jornal The Guardian.

Em junho, Reino Unido e EUA anunciaram um acordo comercial, tornando os britânicos os primeiros a fechar um entendimento do tipo com o governo americano.

  • O acordo prevê cotas para exportação de aço e alumínio isentas de tarifas.
  • O tratado também autoriza os EUA a importarem até 100 mil carros britânicos por ano com taxa reduzida de 10%.
  • As tarifas foram totalmente eliminadas para o setor aeroespacial britânico, incluindo aviões e peças.

3. União Europeia

No fim de fevereiro, Trump disse que pretendia taxar produtos importados da União Europeia. Ele justificou a medida afirmando que os europeus estariam “tirando vantagem” dos americanos nas trocas comerciais. Em abril, anunciou tarifas de 10%, que ainda não entraram em vigor.

? Frente ampla: O presidente da França, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lideraram as negociações com Trump. Macron chegou a viajar a Washington para um encontro com o presidente americano.

  • Dias após a reunião, Macron disse ter poucas esperanças em relação às tarifas dos EUA e criticou a “abordagem comercial” proposta pelo governo Trump.
  • Nesse período, a aprovação de Macron subiu 7 pontos percentuais, chegando a 31% em março.
  • Também influenciaram o cenário as críticas de Trump à Ucrânia e a aproximação do presidente americano com a Rússia.
  • A imprensa francesa associou a melhora na avaliação de Macron ao posicionamento que ele adotou diante das ações de Trump.
  • Assim como no caso do México, a aprovação de Macron voltou a cair nos meses seguintes.

? Reflexos na Europa: A percepção sobre a União Europeia também se fortaleceu. Em fevereiro, uma pesquisa indicou que 74% da população acreditava que seus países tinham mais vantagem por pertencerem ao bloco.

  • O índice foi o melhor registrado desde 1983, quando a série histórica começou.
  • 90% afirmaram que o bloco deveria demonstrar maior unidade diante de desafios globais.
  • 52% disseram confiar na União Europeia ? o melhor resultado em 18 anos.

Atualmente, EUA e União Europeia seguem negociando um acordo sobre as tarifas. No início do mês, Trump assinou uma ordem executiva que prevê o início da cobrança para 1º de agosto, mesma data prevista para o início do tarifaço contra o Brasil.

4. Aprovação de Trump

A aprovação de Trump passou a cair após o presidente anunciar tarifas contra outros países, segundo a média de pesquisas calculada pelo estatístico americano Nate Silver.

? Em março, o índice de aprovação de Trump ficou abaixo da desaprovação pela primeira vez desde o início do governo. A desaprovação atingiu o auge em abril, mesmo mês em que o presidente anunciou o tarifaço contra dezenas de países.

? Uma pesquisa divulgada pela Reuters em março apontou que 57% dos norte-americanos acreditavam que Trump estava sendo “muito errático” em suas ações para a economia dos Estados Unidos.

  • A inflação apareceu como a principal preocupação dos norte-americanos. Segundo a Reuters, seis em cada dez entrevistados disseram que essa deveria ser a prioridade do governo.
  • Além disso, 70% dos entrevistados afirmaram acreditar que as tarifas impostas a produtos importados de outros países tornam alimentos e outros itens mais caros para os americanos.
  • Apenas 32% aprovam as ações do presidente para reduzir o custo de vida.

? Em uma nova pesquisa divulgada no fim de junho, 57% dos entrevistados disseram desaprovar a forma como Trump conduz a política econômica dos EUA, enquanto 35% aprovam. O levantamento ainda mostrou que:

  • 54% desaprovam a política de Trump para o comércio internacional;
  • 54% desaprovam as políticas tributárias;
  • 59% afirmam que o país está no caminho errado para combater a inflação;
  • De modo geral, 57% desaprovam o governo Trump, contra 41% que aprovam.

5. A situação do Brasil

A última pesquisa Quaest, divulgada em 4 de junho, mostrou que 57% desaprovam o governo Lula e 40% aprovam.

? Momento ruim: A desaprovação de Lula oscilou para cima dentro da margem de erro, em relação à pesquisa divulgada realizada em março. Foi o pior índice desde o início do mandato. Veja os números:

  • Desaprova: 57% (eram 56%);
  • Aprova: 40% (eram 41%);
  • Não sabe/não respondeu: 3% (eram 3%).

? Ian Bremmer, CEO da consultoria Eurasia, afirmou que as taxas de Trump ao Brasil se enquadram como uma vingança política contra Lula. Segundo ele, a medida pode beneficiar o petista politicamente, assim como aconteceu com governos de outros países.

“Acredito que o tiro vai sair pela culatra. Acho que vai ajudar o Lula e vai prejudicar Bolsonaro”, analisa. “Acho que isso é um grande erro em praticamente todos os níveis.”

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Fonte G1 Brasília

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