Era para ser o futuro. O tal do BRT, anunciado com a pompa de quem encontrou a solução divina para o transporte coletivo, virou uma novela surreal, com capítulos de improviso e figurantes desamparados. No palco caótico da Avenida do CPA, um novo episódio de nossa tragicomédia urbana se desenrola: trabalhadores do consórcio, rendidos à inércia, sentados no canteiro, cabeças baixas — mas não por culpa ou vergonha. É o WhatsApp que ocupa suas atenções, enquanto o trânsito se arrasta em câmera lenta e a paciência da população vai a zero.
O cenário é de desolação. De um lado, motoristas presos no engarrafamento monumental, bufando de raiva ao olhar para a avenida destroçada que já foi, um dia, uma das principais vias de Cuiabá. Do outro, trabalhadores que nada podem fazer além de esperar, vítimas também do desentendimento entre o governador Mauro Mendes e o consórcio responsável pela obra. O resultado? Uma sinfonia de buzinas, poeira e indignação.
E quem paga a conta? O povo, sempre o povo. Aquele mesmo povo que já tinha engolido o desmonte do VLT, um sistema moderno, eficiente e que já estava com 70% das obras concluídas. O VLT era o sonho, o futuro possível que foi arrancado sob justificativas confusas e substituído por um projeto de BRT que, agora, sequer sai do papel.
O governador, com sua retórica afiada, diria que é preciso “otimizar recursos”, “pensar no longo prazo”. Mas no curto prazo, o que temos? Um caos sem fim. A Avenida do CPA, transformada em uma terra de ninguém, é o retrato vivo da desorganização e da falta de compromisso com Cuiabá.
E enquanto isso, a cidade sofre. O trabalhador, que depende de um transporte coletivo digno, perde horas preciosas em um trânsito que não deveria existir. O empresário, que vê seus custos dispararem por conta do tempo perdido no tráfego, segura o fôlego. E os pedestres, condenados a caminhar entre buracos e desvios, tentam sobreviver ao que deveria ser apenas uma obra, mas se tornou uma metáfora de nossa paralisia administrativa.
Afinal, até quando Cuiabá vai pagar por esses “desencontros”? Até quando veremos o presente estagnado por discussões políticas e egos inflados? Não dá mais. A Avenida do CPA é o retrato de um descaso que não se justifica. É o reflexo de uma promessa quebrada, onde o progresso foi trocado por mensagens no WhatsApp e decisões que só beneficiam aqueles que não andam de ônibus.
Enquanto isso, seguimos esperando. Quem sabe, um dia, o trânsito fluirá, as obras avançarão e os trabalhadores deixarão o WhatsApp para, enfim, construir o futuro que nos foi prometido. Mas, por enquanto, é só poeira, caos e frustração — um retrato fiel da nossa realidade.