A última derrota do governo no Congresso – a devolução da medida provisória que alterava regras para créditos do Pis/Cofins – acelerou uma constatação agora tida como inevitável: o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sofre um ataque especulativo, a céu aberto, celebrado pela oposição, e gestado dentro do Palácio do Planalto.
“Eu já estou cansado de ganhar desse governo”, disse, entre risos, o presidente do PP, Ciro Nogueira, ao embarcar nesta manhã para uma agenda com expoentes da oposição e do agronegócio.
O Congresso já recusou três saídas oferecidas pela Fazenda para reorganizar a arrecadação: a reoneração, a retomada de taxas sobre os municípios e, agora, uma nova formatação para o uso de créditos do Pis/Cofins.
“Essa recusa sistemática, a meu ver, não tem mais viés ideológico ou pragmático. É uma tentativa de derrubar o Haddad”, diz um observador do MDB no Senado. “É uma tentativa de, depois de dominar a agenda dos costumes, tomar a agenda econômica. E contra o único integrante do governo que está de fato apresentando dados: retomada do emprego, PIB e moderação no trato com o mercado”, finaliza.
A devolução da medida provisória pelo Congresso é alvo de mea culpa na Fazenda. A aliados, Haddad disse que houve falha na apresentação do texto quando ele estava em viagem ao exterior. O ministro, segundo esse grupo, avalia que, estando em Brasília, poderia rapidamente ter mitigado dúvidas do setor produtivo e de parlamentares, inclusive emendando o texto.
“Estando fora, o preço da MP caiu no colo do Lula”, afirmou um integrante da pasta. E aí, Lula decidiu desautorizar o ministro da Fazenda. Avisou que a MP cairia, seria retirada. Num gesto para diminuir o desgaste de Haddad, negociou-se que o presidente do Senado devolveria o texto.
O ataque especulativo a Haddad é atribuído no Senado à “república do acarajé”, apelido jocoso dado a uma ala do Planalto capitaneada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, sujeito oculto das negociações com o Congresso e recorrentemente criticado quando o assunto é a derrocada da articulação política.
Até observadores externos veem a disputa interna como o principal problema do governo hoje. “Não é preciso oposição. O governo se permite o diletantismo de deixar seus homens atirarem um no outro. Aparentemente, não veem que o cenário é de oposição mais sofisticada e de embate permanente”, comentou um integrante do Supremo ao blog.
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Fonte G1 Brasília