Para a Polícia Federal (PF) o novo depoimento do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, é visto como um esclarecimento para preencher algumas lacunas. Contudo, chama a atenção que a decisão de ouvi-lo novamente acontece após a entrevista do seu advogado ao Estúdio I, da GloboNews, quando ele disse que o ex-presidente sabia do plano para executar o presidente Lula, o vice Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e, depois, recuou.
A entrevista de Cézar Bittencourt foi esquisita. Quando ele disse que Bolsonaro sabia do plano de assassinato de autoridades, a conexão cai e, nove minutos depois, o advogado retorna para a entrevista e recua no que ele tinha afirmado.
Essa entrevista, segundo pessoas envolvidas na investigação ouvidas pelo blog, adicionou dúvidas entre os investigadores e, por isso, decidiram ouvir Cid novamente. Não se pode descartar nada, nem um adendo e, inclusive, nem um novo inquérito que nasça a partir de alguma novidade que Cid pode trazer em sua delação.
Cid, de fato, colaborou com a delação, mas entregou mais ou menos o que a polícia já tinha conhecimento. Foi o celular dele, apreendido ainda no durante o inquérito dos cartões de vacinação falsos, que trouxe muitos detalhes.
Por isso, pessoas próximas da investigação contaram ao blog que a delação de Cid vai no limite de não entregar muito o que os envolvidos na tentativa de golpe de Estado fizeram e entrega o mínimo para que o acordo seja cumprido ? para que ele tenha uma pena menor. As informações da delação não são consideradas “bala de prata” mas, sim, uma delação considerada acessória aos muitos fatos que já haviam sido descobertos pela PF. Não é à toa que a polícia têm o chamado para prestar novos esclarecimentos.
A cada ida de Cid à PF ou ao STF, quando ele fica diante da autoridade investigativa, ele conta mais um pouco. Isso leva a crer que o ex-ajudante não contou um terço do que ele de fato sabe. E isso pode pesar contra ele na hora de a polícia avaliar a utilidade de sua delação.
Pelo acordo fechado, ele precisa falar tudo. Então, se em algum momento, a Procuradoria-geral da República, com base no que a PF traz ou a partir de uma apuração própria, entender que Cid escondeu fatos, aí a situação dele pode ficar muito complicada.
Novo depoimento de Cid
Cid prestou depoimento à Polícia Federal por cerca de duas horas nesta quinta-feira (5). Ele já foi ouvido mais de 10 vezes ao longo das investigações sobre possíveis irregularidades cometidas na gestão Bolsonaro.
A intimação para novo depoimento é assinada pelo delegado Fábio Shor, responsável por investigações que envolvem o ex-presidente.
Mauro Cid, Jair Bolsonaro e outras 35 pessoas, a maioria militares, foram indiciados pela Polícia Federal por suposta tentativa de golpe de Estado, em outra investigação
Ele chegou a ser preso, mas foi solto após fechar um acordo de delação premiada, também conhecida como colaboração premiada.
Fonte G1 Brasília