O prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini, tem protagonizado uma metamorfose política difícil de ignorar. O mesmo Abílio que, enquanto vereador e deputado federal, fazia da truculência e do desrespeito um método de atuação — invadindo secretarias, acuando servidores e encenando ataques públicos com a fúria de quem parecia possuído por uma fúria incontrolável — agora surge nas redes sociais com voz vacilante, semblante dócil e discurso evasivo. Em recente vídeo, tenta convencer os cuiabanos de que a crise na Santa Casa não é problema seu, mas do Governo do Estado. Em tom quase lastimoso, Abílio lava as mãos diante de uma das mais graves demandas da saúde pública da capital.
O discurso do prefeito, contudo, não resiste à memória recente da população. Abílio sempre se apresentou como fiscal implacável do Executivo, invadindo unidades de saúde como a própria Santa Casa ou o HMC durante a gestão Emanuel Pinheiro para se promover em cima do adversário. Sua postura beligerante, que lhe rendeu votos, agora dá lugar a um personagem que, acuado pela ineficiência de sua própria gestão, tenta se esquivar das cobranças com uma retórica de impotência institucional. Mas o que transparece não é prudência: é a completa ausência de comando, de liderança e de responsabilidade administrativa.
A administração Brunini, marcada por exonerações em série, falta de planejamento estratégico e um governo que parece funcionar no improviso, reflete o perfil de seu líder: errático, inconstante e despreparado. A tentativa de empurrar para o governador Mauro Mendes a responsabilidade exclusiva pela crise na Santa Casa é mais um exemplo da dificuldade crônica do prefeito em compreender o papel de articulação e cobrança que lhe cabe. Em vez de dialogar com o Estado, mobilizar a bancada federal e buscar soluções conjuntas, Abílio prefere o papel de espectador — aquele que lamenta, mas nada faz. A cidade, porém, não pode mais esperar por um prefeito que se comporta como se estivesse de passagem.