Abílio Brunini, prefeito de Cuiabá, parece decidido a se tornar o grande arquiteto de sua própria bolha digital. Ignorando a imprensa convencional — blogs, sites e veículos tradicionais que há tempos cumprem o papel de questionar, investigar e informar —, o mandatário tem apostado exclusivamente em suas redes sociais como plataforma de comunicação. A estratégia, que se assemelha de maneira gritante ao modus operandi do ex-presidente Jair Bolsonaro, soa como um grito de independência, mas talvez esconda um problema maior: o isolamento deliberado de uma liderança política.
Se Bolsonaro consolidou o manual do “governo influencer”, Brunini está revisitando a obra em tempos muito menos favoráveis. O ex-presidente, outrora rei das redes, hoje amarga a inelegibilidade e vê o alcance de seu poder digital desmoronar. Seus seguidores, antes legiões, agora se dispersam como poeira ao vento. Brunini, ao adotar a mesma postura, parece ignorar que a comunicação autossuficiente tem um prazo de validade.
No fim, o exemplo de Bolsonaro deveria servir como um alerta, não como um manual. A política reduzida a memes, lives e anúncios desprovidos de diálogo sério está longe de ser eficiente a longo prazo. Prefeito Abílio, governar é mais do que somar likes. É ouvir, aprender e, sim, conviver com a imprensa que o senhor tanto despreza.
Porque a política real, assim como a democracia, é feita de vozes — e não de monólogos.