Durante uma entrevista coletiva realizada na Arena Pantanal nesta segunda-feira (15), o governador Mauro Mendes protagonizou um momento lamentável e, possivelmente, criminoso ao utilizar a expressão “um passado negro” para descrever períodos de corrupção e má gestão em Mato Grosso. A fala ocorreu durante o lançamento da programação da Semana da Páscoa organizada pelo próprio governo estadual. Ao tentar justificar a escolha da gestão do Hospital Central pela marca Albert Einstein, Mendes comparou o presente com o que chamou de “tempos de um passado negro obscuro, cheio de escândalos de corrupção” – expressão que resvala diretamente no racismo estrutural ao associar negativamente a palavra “negro” com degradação, corrupção e ruína política .
O uso da palavra “negro” nesse contexto, embora ainda recorrente no vocabulário de muitos brasileiros, é um equívoco semântico e moral que reforça estereótipos racistas historicamente impostos ao povo preto. Não é apenas uma infelicidade retórica, mas uma agressão simbólica à memória e à luta dos negros e negras deste país, especialmente em Mato Grosso — estado com profunda raiz afrodescendente. A Constituição Federal e a Lei nº 7.716/1989 — que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor — vedam manifestações que associem negativamente termos racialmente marcados a crimes ou atos imorais. É nesse ponto que a fala do governador extrapola o limite do aceitável, podendo configurar, inclusive, crime de racismo. É preciso dizer com todas as letras: Mauro Mendes ofendeu não apenas a língua, mas uma história de resistência, suor e sangue do povo preto mato-grossense. E isso não se varre para debaixo do tapete da Páscoa.