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Brasil desrespeita, a prestações, o último desejo de Dom Pedro

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No leito da morte (perdão pelo chavão, leitor, mas não conheço expressão mais dramática do que essa) Dom Pedro I fez seu último pedido: “dispensou exéquias reais, como mandava o protocolo. Queria ser enterrado em caixão de madeira simples, como um soldado, comandante do Exército português”.

Ironia do destino: foi justamente a República brasileira, sistema de governo que colocou um ponto final na monarquia, que em duas oportunidades se contrariou o pedido de simplicidade real.

A primeira ocorreu em 1972, quando se comemorava o Sesquicentenário da Independência, e os restos mortais do imperador foram trasladados de Portugal para o Mausoléu do Ipiranga, em São Paulo.

O Brasil vivia sob uma ditadura, e o presidente do período mais sanguinário da repressão, Emílio Garrastazu Médici, promoveu um grande festa. Teve até passeio de moto. Sim, isso mesmo. Na abertura dos festejos, em 21 de abril de 1972, a ditadura promoveu o Encontro Cívico Nacional , no Maracanã. Além de jogos de futebol de crianças, houve a exibição de motociclistas do Batalhão de Guardas.

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Neste dia, a TV brasileira transmitiu a primeira gravação de um presidente da República feita no sistema a cores. Estava dado o pontapé inicial das comemorações.

Naquela época, militares estavam muito ocupados com urna. A funerária, não a eletrônica. A Comissão Executiva Central do Sesquicentenário era presidida pelo general Antônio Jorge Correa, e o ponto alto dos festejos foi traslado dos restos mortais de Dom Pedro. Mas, a “encomenda” não veio completa. O coração de Dom Pedro, permaneceu em Portugal, mantido em uma urna de madeira trancada a cinco chaves na Igreja de Nossa Senhora da Lapa, localizada na cidade do Porto.

Seu corpo foi mantido, desde então, na Cripta do Monumento à Independência, no Museu do Ipiranga, em São Paulo, no local aproximado onde o então príncipe regente teria dado o Grito da Independência, em 7 de setembro de 1822.

Cinquenta anos depois da festa de Médici, o coração de Dom Pedro se juntará aos restos mortais. Ele está no Brasil desde esta segunda-feira (22) para a comemoração dos 200 anos da Independência do país, mas volta para Porto logo após as festividades, no dia 9 de setembro.

Por coincidência, o presidente agora é eleito pelo voto direto. Mas Jair Bolsonaro é um saudoso da ditadura, já se declarou fã de Medici, se amarra num passeio de moto e está planejando para o 7 de setembro mais uma “micareta autoritária”, como este blog gosta de chamar os encontros públicos de bolsonaristas.

Mas convenhamos. Nada mais macabro do que essa história de trazer Dom Pedro I de volta a prestações. Esse blog tem péssima memória afetiva de feiras do interior que tinham como atrações a transformação de uma mulher em macaca Konga e um trailer fedorento com exposição de órgãos humanos e de animais mergulhados em formol.

Pelo visto, os portugueses têm a mesma opinião sobre o tema – tanto que escondiam o coração de Dom Pedro I. Esta história está registrada no livro 1822, de Laurentino Gomes, de quem roubamos as aspas no início deste artigo, sobre o desejo de funeral simples.

Fala, Laurentino:

” Por um curioso processo fotoquímico, o coração de Dom Pedro se expande continuamente dentro da ânfora de cristal em que foi depositado após sua morte em 1834. Hoje, está tão deformado que a Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, responsável pela conservação, decidiu resguardá-lo da curiosidade pública mantendo-o lacrado na escuridão atrás de uma parede da igreja”.

Assim, a República brasileira se vinga da monarquia. Só pode ser…

Fonte G1 Brasília

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