Em mais uma performance digna de um roteiro de sátira política, a primeira-dama de Mato Grosso resolveu roubar a cena no lançamento de um material pedagógico antirracista promovido pelo governo estadual. No evento, que pretendia ser sério e educativo, ela soltou — com toda serenidade — que sabe o que é o racismo porque “a mãe dela era negra”. A fala, recheada daquele tom clássico de “tenho até amigos que são”, veio carregada do tipo de demagogia que só quem ostenta bolsas de grife e frequenta coquetéis no exterior consegue dizer com convicção. Afinal, quando se tem Chanel no ombro e o povo nos discursos, a hipocrisia é apenas mais um acessório.
Como se a comparação já não fosse infeliz o suficiente, ela ainda teve fôlego para afirmar que “ama estar no lixão”, local onde “estão pessoas que ela ama”. A declaração soa como uma peça de teatro mal dirigida, tentando colocar a personagem mais distante da realidade para interpretar a dor do povo com o entusiasmo de quem desce de helicóptero para tirar selfies e subir de volta antes do odor colar na seda do figurino. A verdade é que quem conhece a rotina do povo sabe que ninguém “ama estar no lixão”. Está lá por necessidade, abandono e descaso — inclusive do mesmo governo ao qual a primeira-dama serve com um sorriso e um look de revista de luxo.
Enquanto escolas estaduais carecem de estrutura básica, merenda e inclusão real, o antirracismo do governo parece funcionar mais como palco para discursos prontos do que como política pública transformadora. A primeira-dama poderia, com um pouco menos de empolgação performática, ouvir mais e falar menos — especialmente sobre dores que nunca foram as dela. Afinal, saber o que é racismo não se herda geneticamente. E muito menos se aprende entre espumantes e vernissages.